Delírios na antena

Ligo o rádio aos 15 ou 16 minutos. Antena 1. Em pouco mais de três minutos ouço adjetivos como “fantástica“, “fabulosa” e “espetacular“. A exibição dos coisinhos é fantástica neste primeiro quarto de hora. A ação de André Almeida em anular Hamsik tem sido fabulosa. O corte de Grimaldo, que dá canto, é espetacular.

Porém, o inexplicável, o inesperado, impensável, acontece. Nesse canto: golo do Nápoles. Marcador? Hamsik. Fico sem perceber como é possível. O narrador do jogo, Alexandre Afonso, grita, enquanto espuma para o microfone: “Mas ele não tinha feito nada até agora!!! Hamsik não tinha feito naaaaaada até agora!!“. Temos pena. Ou, como diz um amigo meu, “é fodido”.

Apenas medianos

Nuno Espírito Santo vai dizer, daqui a alguns minutos, na conferência de imprensa do jogo com o Leicester, que competimos, que foi importante competir, que fomos penalizados pela eficácia do adversário contra a falta dessa mesma eficácia da nossa parte. Vai dizer que merecíamos o empate – e talvez tenha razão – pela segunda parte, talvez até a vitória pelos últimos vinte minutos – aqui não terá razão.

O que Nuno Espírito Santo não vai dizer é a razão por que a equipa jogou daquela maneira miserável na primeira parte. Não vai dizer por que deu a titularidade a Adrián Lopez, por que razão mandou Brahimi para a bancada ou por que razão deixou um desastrado e exausto André Silva em campo até ao fim. Isto ele não vai explicar porque provavelmente não é ele que decide. Provavelmente são situações que lhe passam ao lado. Ele treina, outros decidem, ele cumpre.

Esta foi talvez a melhor oportunidade de ganhar em Inglaterra, contra uma boa equipa, é certo, mas ao alcance de um FC Porto com um treinador competente, coisa que não somos neste momento. O que este jogo nos mostrou é que não temos nível europeu. Se calhar nem para uma Liga Europa. E não ganhando na Dinamarca, vamos lutar pelo terceiro lugar com o Brugges, o que será, no mínimo, humilhante.

“We will never gonna make it”

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Em dada altura da minha vida, a long long time ago, costumava ver uns desenhos animados – Dastardly and Muttley in Their Flying Machines – onde (se a memória não me atraiçoa) um cão pouco otimista repetia arrastadamente uma frase que me ficou na memória como resposta à insanidade dos planos do seu dono: “”We will never gonna make it”. Essa frase traduz o que penso sobre o futuro competitivo deste FCP de Nuno Espírito Santo.

NES não transmite o otimismo irresponsável do Dick Dastardly, é verdade, mas repete até à exaustão essa expressão que na atual circunstância é apenas uma muleta discursiva para estimular portistas menos lúcidos. Nuno diz (quase) sempre “Somos Porto”, mesmo quando aquilo que se viu no jogo com o Copenhaga e no jogo com o Tondela foi uma caricatura da equipa de futebol dominadora que temos sido em grande parte dos últimos 30 anos.

Se “ser Porto” é não conseguir vencer um banal representante de um campeonato nórdico (a jogar com 10…) ou não fazer o suficiente para golear sem margem para dúvidas a mais fraca equipa da Liga Portuguesa teremos então regressado ao Porto dos anos 70, aquela equipa que ao passar a ponte rumo a sul já estava a perder, ao Porto de dimensão regional, ao Porto periférico, ao Porto irrelevante, que uma vez por outra se batia de igual para igual com os grandes de Lisboa.

As limitações do plantel são as que já toda a gente evidenciou – dois centrais sofríveis as jogar com os pés, excesso de médios (nenhum deles um líder nato ou um jogador de classe mundial), ausência de soluções indiscutíveis nas alas e falta de um finalizador experiente – mas isso só explica parte dos problemas.  A outra parte é a indefinição de um modelo de jogo, de uma equipa base. Se juntarmos o desaparecimento de jogadores que tiveram muitos minutos na pré-epoca (como o que veio do Liverpool e ainda não jogou um só minuto na Liga) à necessidade de encaixar o retornado Brahimi na equipa e ao entra e sai do único ala minimamente decente do plantel, creio que está quase tudo explicado. O plantel é curto mas a gestão do mesmo é ainda pior. NES fala bem, tem um discurso direitinho, mas isso não ganha jogos porque a equipa não joga nadinha.

Como disse na altura, não fomos nós que vencemos a Roma, foram eles que se suicidaram desportivamente com aquele acumular de expulsões. E esta circunstância feliz permitiu esquecer por momentos aquilo que é óbvio: a equipa não tem condições para competir de igual para igual na Champions, nem com o Benfica ou o Sporting dentro das 4 linhas. Fora delas é melhor nem falar, porque o que aconteceu no jogo de Alvalade foi apenas o exemplo do que vai acontecer em Portugal ao longo da época.

E se alguém crê que  o que se passou em Vila do Conde com a equipa de JJ se irá repetir muitas vezes, desiludam-se. Quem viu os primeiros 15 a 20 minutos do Rio Ave-Sporting sabe que eles tiveram mais oportunidades de se colocarem em vantagem nesse arranque de jogo do que o Porto conseguiu criar nos 90 minutos de Tondela. E, claro, os vermelhos, com uma equipa fortemente debilitada na frente de ataque pelas lesões dos seus melhores jgadores, já estão na frente, prontos para o embalo do colinho que os há-de guiar ao tetra.

A tal série que me ficou na memória tinha outra frase famosa: “Muttley, do something!”…

 

Um empate lopeteguiano

Lembrei-me de Lopetegui, hoje. Aquele futebol de posse estéril, de absoluta falta de ideias e fio de jogo, lembram-se? Só vi a partir dos 30 minutos da primeira parte, mas o que vi foi uma espécie de soporífero para nanar com qualidade.

Depois, ao intervalo, a estatística: 3 remates para cada lado, 1 remate à baliza para cada equipa. Nuno haveria de dizer, no final, que não tivemos eficácia. Pois eficácia foi o que precisamente tivemos na primeira parte: uma bola – e que bola! – à baliza, um golo.

Na segunda parte, não criámos assim tantas oportunidades daquelas cantadas para podermos afirmar que tivemos falta de eficácia. Volume de jogo? Sim, principalmente depois da expulsão. Mas sem organização, mais com o coração do que com a cabeça.

E antes da expulsão foi confrangedor vermos os dinamarqueses a mandar no jogo, contra uma equipa que parecia cansada. E com Herrera, que entra já cansado e condiciona negativamente todo o nosso jogo ofensivo. Oliver esteve a milhas do que fez contra o Guimarães (porque será?).

Gostei da entrada de Brahimi, da forma como jogou para a equipa e tentou o um contra um com mais critério do que o costume. Temos de o recuperar porque precisamos urgentemente de criatividade naquela equipa.

Bem, agora vou ali ver o Jorge Jesus a falar espanhol.

So SAD… É com estes que contamos

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A novela do mercado de verão chegou ao fim e dificilmente terá agradado aos adeptos do Porto. Assumindo que o que motivou os tristes desempenhos da época passada foi, para lá da burrice do atual selecionador espanhol e a incapacidade de motivar os jogadores do Peseiro, a escassez de soluções com qualidade no plantel, pouco mudou quando muito deveria ter mudado.

A primeira coisa a reter é a incapacidade de vender bem, consequência direta do continuado insucesso desportivo  e de muitas opções discutíveis. A segunda é a falta de poder económico para comprar “valores seguros”, jovens ou menos jovens.

Tudo isto se traduziu em zero vendas com números significativos (tanta gente emprestada que o poscrito Maicon acabou por ser o grande negócio de 2016…) e compras modestas: 2 centrais sem grande histórico (e nenhum deles uma grande promessa – um tem 24 outro tem 27 anos!), um lateral esquerdo que ainda estamos para ver o que vale, um pinheiro belga e mais uns rapazes que aparentemente não contam para NES (nomeadamente, o João Teixeira).

Nos entretantos, ficaram com o argelino que joga sozinho, porque ninguém compra caro um jogador pouco mais do que jeitoso, e com o colombiano anafadinho que um dia sonhamos seria o nosso próximo Deco. O primeiro vai ser “reintegrado” (parece linguagem de estabelecimento prisional para delinquentes jovens) e o segundo ainda não se sabe. Certinho é manterem-se na folha salarial…

Entretanto, saltou do barco o Antero. Ou foi empurrado pelo filho do Presidente. Ou acabou-se o dinheiro das transações chorudas e, consequentemente, as comixões. Ou foi vítima de um sistema em que alguém tem que ser culpado pelo que corre mal menos o líder da coisa. Seja como for, é sintomático do estado da nação e o eufemismo das “razões pessoais” evocado para a demissão não serve para disfarçar as evidências.