Uma derrota por 0-0

Ninguém ficou ficou satisfeito. Nós porque não ganhámos e não nos impusemos de forma categórica como se exige a uma equipa que quer ser campeã. Eles porque, no fundo, no fundo, têm a consciência que não jogaram um caracol e deram uma imagem muito fraquinha de um campeão anunciado. O primeiro remate à baliza de Helton aos 5 minutos da segunda parte? Em todos o caso, se há sentimento de derrota, esse pertence-nos.
As equipas anularam-se durante a primeira meia hora. Ninguém conseguia três passes seguidos. Na verdade, eles estavam na expectativa do erro nosso (exatamente como no Dragão, lembram-se?). Nós tentávamos construir, mas as sucessivas “faltinhas a meio-campo” de que este Benfica é pródigo esta época encarregavam-se de destruir qualquer intenção nossa de chegar à área contrária. Só nos último quarto de hora da primeira parte é que começámos a mandar no jogo e foi aí que conseguimos a grande oportunidade pelo Jackson.
Este seria um jogo fantástico para Tello. Porque o jogo estava a pedir velocidade e lançamentos para as costas da defesa vermelha. Não havia Tello, não havia velocidade. Oliver fazia o que podia encostado à linha e Brahimi fazia o que podia e o que não devia encostado a dois e, às vezes, três defesas contrários. Na única vez que o argelino não tentou fintar meio mundo e preferiu dar para trás, Danilo cruzou e nós tivemos tal oportunidade.
Na segunda parte, foi precisamente quando nós começámos a arriscar mais com a entrada de extremos puros que os coisinhos aproveitaram, em contra golpe ou em faltas que foram ganhando (a  maior parte delas com grande talento para o teatro dos seus jogadores), para chegarem, então sim, com perigo à baliza de Helton.
Notou-se que a nossa equipa foi ficando cada vez mais impaciente e nervosa, facto ao qual o crescente nervosismo do próprio Lopetegui também não ajudou (já agora, a propósito do final, independentemente do que Jesus lhe terá dito durante o jogo, o nosso mister tem de dar a resposta na conferência de imprensa, e com nível que já foi capaz de demonstrar esta época).
Em termos de arbitragem, palmas para a coragem de amarelar uma das muitas simulações de um jogador dos coisinhos. Outras ficaram por assinalar, mas não se pode ver tudo e eles estão muito bem treinados para a função. Se se mostra amarelo ao Jackson naquele lance (houve ímpeto, mas não houve rasteira, nem pontapé, nem qualquer movimento com os braços), também se deve mostrar a Fejsa no outro sobre Quaresma (seria a expulsão do sérvio). Já agora, o lance entre Luisão e Jackson é penalti claro. O colombiano nunca chegaria à bola, mas é nítido que Luisão se assusta com a antecipação de Jackson e tem a reação instintiva de lhe pôr os braços em cima. Falta em qualquer sítio do campo. Na grande área equivale a penalti.
No final disto tudo, deixem-nos sonhar. E deixem-nos acreditar que o verde Minho vai ser azul e branco. Com derrotas em Braga, em Vila do Conde e em Paços de Ferreira, só faltam Barcelos e Guimarães. Está escrito, caros amigos: os coisinhos vão perder o campeonato no Minho. Oremos.
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O dia seguinte

Hoje estive para esbardalhar o focinho a um colega de trabalho, benfiquista, que teve a lata de me cumprimentar com um “bom dia, tudo bem?” enquanto sorria ligeiramente. Ele cumprimenta-me todos os dias desta maneira, mas hoje vir com um “tudo bem?” foi uma espécie de ironia inconsciente que lhe podia ter custado caro, e que só não custou porque ir agora para o fundo de desemprego não dava jeito nenhum. Apenas respondi, “tá tudo…”, com a esperança de lhe devolver a pergunta na segunda-feira e com um sorriso de orelha a orelha.
De resto, passei o dia meio aziado, como é de calcular, mas cada vez mais convicto que fomos superiores ao Bayern no conjunto das duas mãos. Senão vejamos: foram quatro partes de 45 minutos, das quais ganhámos duas, empatámos uma e perdemos outra. Eu acho que até merecíamos passar. No mínimo, um jogo de desempate (eles sempre tiveram a a sorte de marcar 5 numa das partes…), um tira-teimas. A UEFA devia pensar nisto.

5 minutos à Jackson no pesadelo de Munique

Não foi pelo Reyes que saímos hoje da Champions, goleados em Munique. Foi por toda uma diferença abismal que existe entre as duas equipas e os dois planteis, uma diferença que nós, e é preciso recordá-lo, soubemos anular brilhantemente no jogo da primeira mão. Não o esqueçamos. Mas ela está lá, a diferença. De ritmo, de andamento, de pressão, de condição física. Obviamente que ter dois centrais a jogar nas laterais não faz muito pelo nosso jogo de pressing constante – aquele que conseguimos fazer no Dragão. E ter um central lento como é Reyes encostado à linha não ajuda nada. Não querendo alinhar pelo comentário fácil a posteriori, sinceramente, não estava à espera de ver o mexicano em jogo hoje, quanto mais a titular. É certo que não eram muitas as alternativas, mas a presença de dois centrais ali, corta automaticamente qualquer veleidade de a equipa se estender para o ataque com rapidez. E, ficando encolhida lá atrás, sem poder sair em tabelas com os laterais, torna-se presa fácil para um tubarão de dentes afiados como foi este Bayern.

Hegemonias

O guru oleoso do comentário desportivo, que dá pelo nome de Rui Santos, apresentou uma tabela através da qual nos dá conta de que o FC Porto está a perder poder. A sapiência atribuiu pontos às várias competições e depois foi só pegar na máquina de calcular. A constatação imediata é a de que os coisinhos estão em primeiro lugar deste ranking, o que leva, desde logo, à mais importante das conclusões: o FCP perde poder. Qualquer um de nós pode fazer o seu próprio ranking, atribuindo os pontos que quiser às competições que quiser. Até podemos fazer as contas necessárias para que o clube do nosso coração fique em primeiro lugar.
Mas eu deixaria aqui apenas uma observação para as duas últimas competições da lista, a Taça da Liga e a Supertaça. Rui Santos atribui a uma taça recente, sem carisma, na qual os clubes aproveitam não poucas vezes para rodar jogadores menos utilizados um peso superior a um troféu que se disputa há mais de trinta anos, organizado pela Federação Portuguesa de Futebol, o órgão máximo do pontapé na bola cá do sítio, e que junta o campeão e o vencedor da Taça de Portugal. Um troféu que faz parte da identidade do nosso futebol, mas que tem, para infelicidade de uns tantos milhões, um problema: o FCP ganhou 20 vezes este troféu. Que chatice. Ora, basta fazermos o exercício de invertermos as pontuações destas duas competições – Taça da Liga e Supertaça – para vermos o que acontece à chamada “perda de poder” do FC Porto. Experimentem.
(Um agradecimento ao nosso leitor Sardonicus, que publicou esta imagem no facebook do Pobo)

Vila do Conde: a resposta competente

Em Vila do Conde, uma grande primeira parte, em que não deixámos o Rio Ave respirar, quase garantia um segundo tempo tranquilo. Digo quase, porque os vilacondenses reduziram (já agora, Danilo e Maicon muito macios na abordagem ao lance) e seis milhões suspiraram que nos acontecesse o mesmo que a eles. Felizmente, houve aquele passe mal feito em zona proibida, Aboubakar foi competente a fazer o que se exigia e Hernâni finalizou com classe. Numa altura em que a questão do goal-average pode ser importante para a definição do título, podíamos e devíamos ter ido atrás de mais golos, mas os criativos já tinham saído (Brahimi e Quaresma) e Lopetegui pareceu dar sinal claro de que era altura de pausar o jogo e, acima de tudo, não meter o pé, não fosse ficarmos privados de mais jogadores por lesão.
Uma última palavra para aquele fora de jogo escandaloso que foi tirado no golo do Brahimi. É que nem se pode dizer que o árbitro auxiliar estivesse mal colocado. Nem se pode dizer que a jogada tenha sido muito rápida. Nem se pode dizer que estivesse em linha ou perto disso. Que se pode dizer, afinal?

Quaresma de luxo

Dá a impressão que Quaresma veio aqui ler o post anterior e decidiu responder com uma exibição fantástica a todos os níveis. Duas assistências  e dois golos. Precisamos muito deste Quaresma, agora que parece confirmada a ausência de Tello nos dois jogos da Champions e no galinheiro. Precisamos de um jogador sem medo, que olhe o adversário de frente e ponha a bola com açúcar na zona de finalização. Um jogador que pressione os defesas aos 77 minutos como no lance que deu origem ao quinto golo (ainda que me pareça, efetivamente, que há falta). Precisamos de um líder e, neste momento, Quaresma parece ser um dos que é capaz de dar um abanão no jogo e levar a equipa atrás.
Queria deixar aqui uma nota negativa para os assobiadores que, a meio da primeira parte, mostraram que ainda estavam com o chip da Madeira. Podiam ter aproveitado o intervalo, que não chovia, e ido para casa. O estádio, já de si longe de encher – perto dos 30 mil -, não precisa de ecoar assobios dos próprios adeptos.