Pequeninos a jogar, pequeninos a celebrar

Leis do Jogo – LEI 12

3. Medidas disciplinares

Um jogador deve ser advertido se:

• faz gestos provocatórios, de troça, ou inflamatórios

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Aquele palhacito com as mãos nas orelhas, que alguns segundos antes se preparava para sair do Dragão com o rabinho entre as pernas, vergado a uma exibição categórica do FC Porto, levou cartão amarelo por causa desta provocação aos adeptos portistas?

Chicos-espertos e afilhados

O clube emitiu hoje um comunicado sobre a transmissibilidade dos cartões de lugar anual. E fê-lo com toda a razão uma vez que há sócios maiores (sem lugar anual) a entrar gratuitamente com cartões de sócios menores (com lugar anual, mais barato). Eu nem sabia que se podia ceder o lugar a sócios da mesma faixa etária e da mesma categoria. Diz o clube que no próximo jogo, com os coisinhos, irá apreender os cartões que forem apanhados nesta chico-espertice e que se trata, “acima de tudo, de uma medida de justiça e equidade para a imensa maioria de associados.” Acho muito bem que quem anda a roubar o clube em proveito próprio seja posto na ordem. E gostei muito desta última expressão: uma medida de justiça e equidade para a imensa maioria de associados. Só tenho pena que estes conceitos, sempre louváveis, nem sempre estejam presentes quando se trata de zelar pelos verdadeiros interesses dos sócios como eu, que já tenho mais de 35 anos disto.

Por exemplo: no dia 22 de outubro, preparava-me para uma tarde desportiva à antiga com o meu filho pequenito. Começávamos com o hóquei, contra o Turquel, continuávamos com o andebol, contra o Sporting, para, finalmente, acabarmos no futebol, contra o Arouca. Deixei o carro no centro comercial junto ao estádio e, no percurso de cerca de cem metros que separa o shopping das bilheteiras do pavilhão, fomos abordados por cinco ou seis pessoas a quererem vender-nos bilhetes para o hóquei. Respondi sempre que pretendia comprar os papelinhos na bilheteira, que é onde se compram os bilhetes, como expliquei ao meu filho, que, na sua inocente ignorância, não compreendia por que razão eu rejeitava a oportunidade de despachar a coisa com aquelas pessoas. O incómodo de ter de repetir o mesmo a várias pessoas enquanto caminhava transformou-se em espanto quando, na própria bilheteira, encostados ao balcão, estavam mais dois vendedores. Ali, às claras, sem problemas. Que os bilhetes eram ao mesmo preço, que eram a mesma coisa, etc… etc…

Eu gostava que o clube me dissesse quem eram aquelas pessoas que, livremente, se moviam junto à bilheteira a fazer negócio. Gostava de saber quem são, se têm alguma ligação ao clube – do tipo laboral – e porque o fazem com tanto à-vontade. Até porque quando disse à menina da bilheteira que também queria dois bilhetes para o andebol, ela disse que estavam esgotados. No final do hóquei, à saída do pavilhão, verifiquei que lá andavam “os do costume” a vender bilhetes para… o andebol. Eu queria saber quem devo responsabilizar por impedir que eu e o meu filho pudéssemos apoiar o clube contra o Sporting e, ao mesmo tempo, permitir que se vendessem bilhetes, no passeio da rua, sem qualquer intervenção do clube ou da polícia.

Devo responsabilizar os mesmos que, há dois ou três anos, me quiseram chutar da bancada super bock (equivalente à antiga superior sul, onde me fiz adepto e sócio há 37 anos) para a bancada coca cola (superior norte), através de uma carta que já designava o meu novo lugar, o setor onde ia ficar e a porta por onde devia entrar? Devo responsabilizar esses mesmos que me quiseram mandar para o “outro lado”, a coberto de uma remodelação que ia no sentido da criação de uma denominada “bancada da juventude”? Só não dei uma boa gargalhada com esta da “bancada da juventude” porque a raiva de ser arrumado para outro sítio foi maior. É claro que não aceitei essa mudança e até agora não vi a minha zona ser invadida por essa tal juventude, por certo, muito mais portista do que eu. Mas conheço quem tenha, tal como eu, permanecido na sua cadeira de sonho, e tenha tido o azar de quase ser engolido vivo por um conjunto de jovens adeptos que insistiam, vá-se lá saber porquê, em ver o jogo de pé, em cima das cadeiras, e insultar e ameaçar quem ousasse dizer alguma coisa. Essa pessoa teve mesmo que mudar de bancada porque queria ver o seu clube jogar à bola com o seu filho em clima sereno e com o mínimo de civilidade possível.

Já agora, quando fui comprar o bilhete do FCP-Arouca para o meu filho, pedi o mais próximo possível do meu lugar anual (o tal que me queriam tirar). Quando a funcionária me disse que só tinha para o setor ao lado, perguntei se os lugares junto aos meus são lugares anuais, ou seja, se estão bloqueados por causa disso. Qual não foi o meu espanto quando a menina me diz que “já não vendemos bilhetes para o seu setor”. “Então quem vende?”, perguntei eu. Ela sorriu e eu compreendi. Se eu quiser um lugar anual para o meu filho, terei de mudar de bancada.

Para concluir, e pegando na tal bonita expressão que vem no comunicado do clube, eu gostava que a justiça e a equidade fossem mesmo um privilégio de uma imensa maioria de associados, principalmente daqueles que, já não sendo jovens, como eu, continuam a sofrer pelo clube e apoiá-lo com o mesmo espírito de sempre.