Agitar a águas

Já que estamos numa de agitar as águas por causa da selecção, eu proponho que façamos o mesmo em relação ao FC Porto. Por isso, aqui vai: João Moutinho vai ser dragão, Raul Meireles vai para o Manchester United e o guarda-redes da Nigéria, Vincent Enyeama, vai defender a nossa baliza. Querem provas disto tudo? Não tenho.
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Asneira da grossa

Ontem finalmente tivemos alguma emoção genuína neste Mundial, um torneio que, salvo raras excepções, tem sido um longo bocejo. A animação inesperada chegou através – de quem poderia ser? – dos árbitros, que fizeram asneira da grossa. Refiro-me mais concretamente aos “bandeirinhas”, que avaliaram mal dois lances que, aparentemente, seriam de fácil avaliação.

A Alemanha viu finalmente vingado o lance de 66 contra a mesma Inglaterra. Na altura, a bola não entrou e o árbitro validou o golo. Ontem, a bola esteve bem meio metro dentro, mas o árbitro não deu o golo. Lampard levou as mãos à cabeça, os adeptos ingleses apuparam o árbitro, mas, em boa verdade, a Alemanha foi bem mais equipa do que os súbditos de Sua Majestade. O erro foi muito determinante no resultado, mas algo me diz que os alemães ganhariam o jogo. É impressionante o contra-ataque desta selecção, um grupo muito longe daquele estilo frio e calculista de outros tempos.

À noite foi a vez da Argentina beneficiar de um erro de arbitragem grosseiro (onde é que já vimos isto?). Não consigo perceber como é que um fiscal-de-linha não vê aquele fora-de-jogo. Creio mesmo que é daqueles lances em que o árbitro principal tem obrigação de intervir, pois não havia sequer um jogador entre o Tevez e a baliza. Não está em causa a superioridade da equipa argentina, mas o México estava a jogar muito bom futebol, já tendo inclusivamente acertado na trave. Em termos defensivos, a asneira que permitiu o segundo golo não dava grandes garantias, mas o ataque do México é muito bom (Hernandez é um grande jogador). A um outro nível, continua a irritar-me muito o “espectáculo” Maradona, a sua propensão para se fazer notado no banco…

Quando escrevo este texto, a Holanda já derrotou a Eslováquia, uma das boas surpresas deste Mundial. Só uma pergunta: quantas vezes já vimos o Robben marcar golos como o que hoje marcou? Este é um daqueles lances do Robben que vem nos livros, que toda a gente conhece e testemunhou por dezenas de vezes. Como é que ainda há defesas que permitem um lance assim?

Última referência para os tradutores da SportTV. Acabei de ver o Primeiro-Ministro britânico, David Cameron, a comentar a derrota contra a Alemanha. A certa altura, refere-se ao “third umpire” no cricket, como sendo uma vantagem para o desporto, que o futebol podia aproveitar (a introdução de um terceiro árbitro). Na tradução, surgiu “o terceiro império”. Asneira da grossa, senhores da SportTV!

Quatro pontos sobre o jogo com o Brasil

1. O look à “Jack Sparrow” (Piratas das Caraíbas) do Danny fica-lhe bem. Dá-lhe um ar divertido e os defesas distraem-se um pouco.

2. O Cristiano Ronaldo olhou mais vezes para o ecrã gigante do que para a bola. Nos livres, tentou, sem sucesso, acertar nos ditos ecrãs.

3. O Brasil é uma desilusão. Falta ali magia e talento. Com Kaká de fora, aquele meio-campo só deu porradinha, com Felipe Melo a destacar-se por ser o que mais fruta distribuía. Dunga percebeu, e antes que ficasse a jogar com 10, tirou-o de campo.

4. Jogámos “à Mourinho”, tacticamente irrepreensíveis, muito bem na defesa. Uma exibição sólida, numa equipa que ainda não sofreu golos neste Mundial e tem uma média superior a dois marcados por jogo, sendo que em dois deles não marcou nenhum. Somos grandes!

Um polaco na nossa baliza

Sempre nos demos bem com a escola polaca de guarda-redes. Até ao dia em que chegou Andrzej Wosniak, o homem que, apesar de ter defendido a nossa baliza nos míticos 5-0 na Luz, não deixou saudades. Hoje, foi anunciado na RR a vinda de Pawel Kieszek, o guarda-redes suplente de Eduardo no Braga. Com a saída de Nuno Espírito Santo – obrigado por tudo, já agora – abria-se uma vaga no plantel. A opção poderia ter caído em Ventura, mas será preferível colocá-lo a rodar mais uma época a ter de ver a sua progressão interrompida por Hélton ou Beto… Há quem diga que Helton está de saída, o que, nesse caso, abriria a porta a Ventura… Considero fundamental a posição de guarda-redes pois é a partir dela que se cria estabilidade defensiva. E o passado ensinou-nos isso mesmo.

Viva o Prof. Queiroz! Abaixo o Scolari!

Em primeiro lugar, quero dizer que sempre disse que o professor Queiroz é melhor treinador do que o Scolari. E hoje ficou provado isso mesmo. Sete a zero a uma selecção que foi derrotada tangencialmente pelo Brasil. Atenção!

Bem, fora de tangas, como se dizia na minha rua, aqueles coreanos do norte têm uma noção muito própria do que é a marcação num jogo de futebol. A ideia é estar onde não está a bola e não estar onde está o jogador adversário. A nossa missão foi muito facilitada por esta abordagem kamikaze do adversário, mas também tivemos o nosso mérito. Desde já, muito maior mobilidade do meio-campo do que no jogo com a Costa do Marfim. E aqui talvez não seja estranha a ausência de Deco, o nosso mágico, que já tem ali uns pesos nas pernas que não o deixam correr com muita velocidade…

Mundial visto sem lupa

Não tenho visto grande coisa deste Mundial. Aqui e ali, uns resumos, umas segundas partes, uns quinze minutitos. Nem sequer tenho acompanhado grandemente o evento na imprensa. Porém, hoje (sim finalmente hoje) reabro a porta do Pobo do Norte para algumas linhas sobre esta competição.

Grupo A

Não posso esconder o prazer que me dá ver a França a enfardar. Por muitos motivos, de índole desportiva e não só, que agora não me apetece desenvolver. Vi a segunda parte do jogo com o México e reparei em duas coisas: 1. A impotência dos gauleses em criar oportunidades, em grande parte, mérito dum México que dá prazer ver jogar. 2. Um senhor chamado Domenech, no banco da França, imperturbável e alheado a tudo quanto a sua equipa (não) fazia, qual alien à espera da nave espacial que o leve de volta para o seu planeta. Entretanto, Anelka foi expulso da selecção e Evra quer encontrar o bufo que anda por lá a dar informação à imprensa. Bem, quando pensarmos que as coisas estão mal com a selecção portuguesa, lembrmo-nos da França.
O Uruguai, com os nossos Álvaro Pereira (um golo de cabeça!) e Fucile, fez descer à terra os sul-africanos, um conjunto de bravos rapazes que não devem ir além desta fase de grupos.

Grupo B

Neste grupo não há grande história quanto ao provável vencedor, sendo que à Argentina não podia ter caído do céu grupo mais fácil. Vi um bocadinho do Argentina-Nigéria e desde logo reparei na sede de protagonismo de Maradona, muito teatral e constantemente a procurar entrar no jogo. Das restantes três selecções que compõem o grupo, creio que a Coreia do Sul é a que terá mais hipóteses de se qualificar: a Grécia joga com a Argentina e, admitindo uma derrota natural dos helénicos, bastaria aos coreanos um empate frente à Nigéria.

Grupo C

A grande desilusão é a Inglaterra, uma selecção de que eu me habituei a gostar. Por muitos motivos, de índole desportiva e não só, que agora não me apetece desenvolver. Percebe-se que Capello não quis ter muitos velocistas na equipa, bastando-lhe Lennon e Defoe e por isso prescindiu de Walcott. O que não se percebe é aquela insistência em Heskey, uma versão black do nosso Hugo Almeida, mas ainda pior. Acredito que os ingleses vão passar e que serão acompanhados pelos States.

Grupo D

Dos grupos que já jogaram a segunda jornada, este é o mais equilibrado. A Alemanha deslumbrou contra a Austrália, mas logo depois foi surpreendida por uma Sérvia que tinha mantido, contra o Gana, o registo medíocre dos anteriores mundiais. O Gana, que é para mim, a melhor selecção africana do Mundial, vai em primeiro, mas terá o derradeiro jogo desta fase com a Alemanha. Entretanto, a Austrália espreita uma oportunidade no último jogo, frente à Sérvia, mas acho que os cangurus são a selecção mais fraca deste grupo.

Grupo E

Aqui a Holanda já fez o que tinha a fazer e em dois jogos já garantiu a presença nos oitavos. Agora os outros que se entendam, e eu tenho um feeling que o Japão vai levar a melhor sobre a Dinamarca. Dos Camarões não reza a história e longe vão os tempos da super-selecção de Milla, Omam-Biyik e Makanaky, que chegou aos quartos-de-final do Mundial de 1990.

Grupo F

Neste grupo é como se o Mundial ainda não tivesse começado e apenas tivessem dois jogos para fazer. Tudo empatado, tudo com um ponto, tudo com um golo sofrido e outro marcado. Já há quem faça paralelismos com a Itália de 82, que empatou os três jogos da fase de grupos e depois foi campeã. Vi um bocadito do Itália-Paraguai e dei por mim a relembrar nomes como Conti, Donadoni, Maldini, Vialli, Baggio, Del Piero ou Totti. Falta muita magia a esta Itália, que não aproveita o facto de ter um grupo aparentemente fácil.

Grupo G

O nosso grupo tem no Brasil o grande favorito, apesar de a máquina ter emperrado no jogo com a Coreia do Norte. Nós fizemos um resultado aceitável contra a Costa do Marfim, uma selecção que tem grandes jogadores que jogam em grandes clubes da Europa. Por isso achei estranha a convicção de alguma imprensa, antes do jogo, de que este seria um jogo para ganhar com tranquilidade. Quanto à nossa prestação, farei a minha análise num outro post, mas a minha ideia é a de que estamos gastos, não temos meio-campo, e falta a Queirós a única coisa que Scolari tinha de bom: capacidade de mobilização psicológica.

Grupo H

Se as coisas nos correrem mal, para além da França, lembremo-nos da Espanha. O mal dos outros, nestes casos, serve-nos de paliativo. Não vi nenhum dos jogos deste grupo, mas ouvi falar em sobranceria dos espanhóis, campeões da europa. Custa-me a acreditar nessa teoria, pois sempre vi na Espanha um conjunto de jogadores capazes de dar o máximo e de aliar o talento à humildade de comer a relva quando necessário.