É a distinção mais (in)desejada. A mais involuntária (nem sempre, como compreenderão pela lista de nomeados…). Aquele galardão que distingue os que deveriam ter escolhido outra profissão ou simplesmente ficado em casa no sofá naquele dia, naquele momento.
Dos bloppers mais incríveis e episódicos, às asneiradas mais usuais e recorrentes, esta época foi fértil em azelhices no mundo do Dragão (e, rigorosamente, até ao seu fim…). O prémio “Morcão Douro – Azelha do ano” hoje atribuído reflecte a riqueza e espectacularidade dos mais trengos, dos mais tropegos, dos que não sabem simular, dos que não sabem decidir, dos que insistem no erro, dos que não sabem assumir e dos que não conseguem disfarçar que o fizeram de propósito. Não incluímos o Marega, que revelou muito potencial para a distinção mas teve poucas oportunidades de o mostrar com as nossas cores. E, excepcionalmente, deixaremos o Guerra fora dos candidatos neste galardão.
Os nomeados:
Hector Herrera
Não existe jogador na história recente do FCP que me tenha alimentado simultaneamente doses equivalentes de desespero e esperança. Existiu um caso similar, chamado Tomás Costa (médio argentino que chegou com boas indicações e partiu sem ruído para ninguém mais se lembrar dele), mas durou pouco tempo. Herrera é voluntarioso, tem momentos de verdadeiro génio, marca golos, puxa ocasionalmente a equipa para frente (como no jogo da Luz), mas esconde-se em campo com frequência e desaparece dos jogos (ou até do onze) com a mesma facilidade. Mas o que verdadeiramente nos coloca os cabelos de pé são as más decisões, os passes errados, as perdas de bola infantis, tudo isto agravado pela expressão aparvalhada de um rosto no qual as orelhas foram mal aparafusadas à nascença.
Ivan Marcano
Este espanhol era suposto ser o nosso mais experiente central, o que tinha mais jogos nas pernas, o que tinha passado por campeonatos diferentes (Espanha, Grécia e Rússia), o que estaria preparado para tudo. Ninguém esperaria que um jogador de topo do país de nuestros hermanos escolhesse o campeonato português para fazer carreira e não era certamente essa a expectativa criada com a contratação deste Marcano. Mas, por outro lado, também ninguém contava que o seu lado “Ivan, o terrível“, fosse de facto tão terrível. Para suportar a “candidatura” de Marcano a este prémio nem é necessário recuar ao início da época e elencar os autogolos, passes de risco e bolas perdidas em locais proibidos – basta olhar para o que aconteceu no dia 22 de maio, no Estádio Nacional. No primeiro golo do Braga partilha as culpas com Chidozie e com Helton; no segundo, o “mérito” da azelhice é todo dele e daquela falha ao nível de um jogador sofrível do campeonato nacional de seniores.
Maicon
Na sua sétima época de azul e branco, já poucos acreditariam naquela comparação benevolente que alguns, incluindo eu, fizeram com o percurso de Pepe: que a sucessão de pequenas grandes paragens cerebrais em momentos capitais dos jogos daria lugar a actuações sem mácula, a uma afirmação de maturidade e classe mundial no centro da defesa. Resumindo, que a lagarta se transformaria em borboleta e que, depois de nos dar um par de anos de qualidade, sairia para um colosso europeu por mais de 20 milhões de euros. Pois bem, nem uma coisa nem outra. O homem teve os seus momentos, golos decisivos e manifestações de garra acima da média, que borrava regularmente com excessos de confiança na defesa, simulações parvas, tentativas de sair em estilo que acabavam mal e muitas lesões. O trágico-cómico episódio do jogo com o Arouca ,que conduziu ao ocaso da sua carreira no Porto, é uma linda versão resumida da personalidade, profissionalismo e talento deste senhor.
Julen Lopetegui/José Peseiro
Já tive oportunidade de sublinhar o quanto duvido das capacidades tácticas e de liderança de Lopetegui. De como me aborreceu o seu futebol feito de passes na retaguarda e de como me irritou a incapacidade de encontrar soluções (que existiam, algumas, como ficou demonstrado) para posições chave da equipa. O outro lado negro de Lopetegui foi também a sua obsessão com a rotatividade, que impediu a criação de um onze base antes de Dezembro, nas duas épocas em que esteve à frente da equipa. Quanto a Peseiro, a sua inabilidade manifestou-se desde logo na forma como aceitou a missão de treinar o Porto: conhecidas que eram as lacunas do plantel, “engoliu” Marega, Suk e José Sá, que foram as soluções que a administração lhe deu, e não piou. É verdade que a equipa estava já em pronunciada queda, mas os resultados acabaram por ser estatisticamente mais fracos do que o seu antecessor, com o triste sublinhado do seu percurso ter acabado (espero) com a perda da Taça de Portugal. Peseiro tem como mérito a aposta sistemática em André Silva (depois de ter insistido em Suk e até em Marega) e a recuperação de Herrera, mas para lá da vitória arrancada a ferros na Luz (muito por mérito de Casillas), sobram derrotas humilhantes e exibições inenarráveis como a do jogo com o Tondela
PdC e Administração da SAD do FCP
3 anos sem ganhar nada de significativo seriam motivo para a eleição. E apesar do prémio respeitar à época que agora terminou, é impossível ficar indiferente ao mérito colectivo e à consistência da actuação que motiva esta nomeação, a qual vem premiar 3 longas épocas de desmandos, contratações falhadas, negócios estranhos e entrevistas ainda mais bizarras do PdC (aquela no Porto Canal em que ele refere que “agora é que vai ser” é brilhante porque, por momentos, acreditei ter existido outro presidente do clube/SAD nas últimas décadas). Ponto alto a assinalar, ainda que não o único ou o mais representativo, foram as contratações do mercado de Inverno. A equipa falhava na defesa, as lesões limitavam a escolha e o Maicon tinha sido despachado, pelo que era urgente arranjar um central; adicionalmente, o meio campo necessitava de um criativo, que marcasse golos e rompesse a modorra táctica, isto é, impunha-se o recrutamento de um médio de ataque. Com estas duas prioridades, um central e um médio, o que é que a SAD faz? Contrata um jovem guarda-redes (para a equipa B…), um desengonçado avançado do Mali para as alas e, por fim, um ponta de lança sul coreano de 24 anos, muito esforçado mas mediano… O equivalente ao desempenho do Marcano na final da taça – quando estávamos perto do golo do empate, o espanhol decidiu que com 2 golos de diferença seria mais emocionante a “remontada”… Tudo em (triste) sintonia no reino do Dragão.
E o “Morcão Douro – Azelha do ano” de 2016 vai para…

PdC e administração da SAD do FCP
Nenhum jogador ou treinador pode ser culpado da totalidade das asneiras cometidas nesta e nas duas épocas precedentes. A culpa só pode ser de quem manda, de quem os escolheu, de quem os manteve nesses lugares, de quem tentou depois desviar as atenções para actores menores ou para arbitragens. A culpa é de quem esteve calado durante muito tempo e só apareceu para falar que “agora” iria ser diferente ou que confiou “demasiado” em X ou Y. Um líder é aquele que dá a cara pelas derrotas e não se esconde, excepto para dar o palco mediático aos jogadores e equipa técnica em caso de vitória. Um verdadeiro líder não se eterniza – sabe sair no momento certo. A SAD de Pinto da Costa foi o oposto de tudo isto. E muito dificilmente será diferente no futuro.