A eleição e o sorteio

Eu curti à brava a eleição de Iniesta como melhor jogador europeu da época. O que não quer dizer que a ache justa. Para mim, Messi será sempre o melhor dos três, em estado puro, independentemente dos títulos conquistados. Mas gostei que tivesse sido Iniesta porque este jogador fabuloso se arriscava a passar ao lado dos grandes troféus individuais. É altura de esquecer por momentos o goleador, a estrela, o malabarista. É tempo de premiar o construtor, o operário, o verdadeiro jogador de equipa que joga e faz os outros jogar e marcar. O discurso de Iniesta, na sua língua materna (can you hear me, Ronaldo?), pleno de simplicidade e honestidade, mereceu, só por si, o prémio. Curti também o sorriso manhoso do Messi e o melão do Ronaldo.
Em relação ao sorteio da Liga dos Campeões, acho que, no plano teórico, temos todas a hipóteses de passar a fase de grupos. Mas como os planteis nem sequer estão fechados, este tipo de conjeturas é completamente irrelevante neste momento. Repare-se que chegamos a um tal estado em que o sorteio da Champions é feito antes do período de transferências acabar, com várias equipas que participam neste mesmo sorteio a poderem ainda negociar jogadores entre si. Veja-se o caso do nosso grupo, por exemplo. Ainda há dois dias corriam rumores de que o PSG estaria interessado em João Moutinho…
Uma última palavra para o espetáculo deprimente da malta da TVI que fez a transmissão. Quantos eram? Quatro? Cinco? Seis? Uma dica, senhores da TVI: a bem da comunicação efetiva e da sanidade mental dos telespectadores, não mais de dois apresentadores, ok? Aquilo que tive oportunidade de ouvir foi uma espécie CC Colombo em hora de ponta. Desde gargalhadas da jornalista histericazinha e conversas sobrepostas em que nada era percetível até pontapés na gramática, frases inacabadas, interrupções, aquilo foi uma conversa de café que eu, como telespectador, dispensava bem. Ainda para mais, uma conversa cheia de banalidades. Neste aspeto, o ex-jogador-manequim-socialite Dani bateu todos de cabazada. Reproduzo aqui o seu comentário ao sorteio: “ Porto, parece-me ter sido um sorteio bastante agradável e acessível… O Braga tamem não se pode dizer que… Tem o Manchester United, mas as outras equipas são tamem acessíveis… E o Benfica tem aqui que lutar com o Spartak de Moscovo e com o Celtic, mas provavelmente mais com o Spartak.” Muito bem, aqui está a visão de um analista de futebol a quem pagam para dizer este tipo de coisas profundas.

Mercados e mercadores

O que têm em comum Iturbe, Kelvin, Rolando, Álvaro Pereira, Belluschi, Castro, Bracalli, Sapunaru, Fucile e Beto? São todos jogadores que teriam lugar no plantel do FCP 2012/2013 e que , nuns casos, saíram ou sairão por valores muito baixos, noutros, vão ser emprestados sem nunca terem tido as oportunidades que merecem, e outros ainda, estão encostados ou fazem parte do plantel mas não jogam nem em partidas “a feijões”.

E aqueles nomes são apenas os exemplos que me parecem mais marcantes. Aceito que jogadores como o Sereno, Kieszek, Janko, Souza, Walter, Addy ou Ventura possam ter sido úteis num dado contexto (o caso do “pinheiro” austríaco é um exemplo disso) mas não tenham (ainda?!) qualidade suficiente para jogar no FCP, ou até, que existam razões “extra futebol” que os inibam de concretizar o potencial que quem os contratou viu neles (coisa já de si muito discutível no caso do guarda-redes polaco…). 
Vem isto a propósito da tragédia em que se têm crescentemente transformado as últimas pré-temporadas: os melhores estão sempre em vias de sair (ou a suspirar publicamente por isso…) e, todos os anos, chegam carradas de jogadores de segunda linha para substituir outros jogadores de segunda linha, os quais, por sua vez, passam de titulares a dispensáveis, de regularmente utilizados a ostracizados (alguém percebeu o que se passou com o Fucile e o que se passa com o Sapunaru?!) ou de brilhantes artistas a exilados no futebol turco (olá Bursaspor, aqui vai o Samurai).
Claro que todos sabemos que o futebol está cada vez mais mercantilizado, que é um negócio de milhões e que o “amor à camisola” é quase sempre uma treta porque os jogadores são profissionais e jogam por quem lhes paga melhor, onde têm mais visibilidade e mais possibilidades de vencer. Também sabemos que para uma multidão de agentes e dirigentes é essencial movimentar a “mercadoria humana”, para ganharem comissões chorudas em negócios inexplicáveis, enfim, para meterem a mão no prato. Percebo tudo isto, ou melhor, a perspectiva de agentes e jogadores, mas já me custa mais a perceber o papel dos dirigentes, ou talvez não… 
Enfim, se não quiser fazer acusações sem provas concretas terei que me cingir ao óbvio: não tendo motivações ilícitas, aquilo que este entra e sai de jogadores representa é então pura má gestão, irresponsabilidade e incompetência no estado mais puro, coisas que vão sendo esquecidas ou obscurecidas pelos comparativamente poucos fantásticos negócios que se foram fazendo. Porque por cada Cissoko, Bosingwa ou Meireles comprado ao preço da chuva e vendido a peso de ouro existe uma multidão de negócios/jogadores falhados que, cumulativamente, custaram muito caro (em salários e/ou na sua aquisição) – só desde 2005, lembro-me do Tomas Costa, do Benitez, do Walter,  do Stepanov, do Christian Rodriguez, do Valeri, do Bollati, do Leandro Lima, do Kazmierczak, do Lucas Mareque, do Renteria, do Bruno Moraes, do Sonkaya, do Sokota… é preciso dar mais exemplos?
E, no meio deste regabofe comprador, é cada vez mais raro ver um jogador das camadas jovens (já nem digo português…) ter a oportunidade de jogar na equipa principal. Este ano temos, aparentemente, o Atsu, mas o que dizer do desperdício do Castro (que é anunciado como a caminho da Roménia), que tanta falta fez na segunda metade da época passada, em que ficamos limitados aos 3 médios titulares e a um único suplente? 
Faltam 3 dias para final do prazo das transferências de verão: alguém consegue adivinhar o que vale o Porto versão 2012/2013 sem o Moutinho e/ou o Hulk, e sem tempo para contratar “substitutos”?

Sonho de uma noite de verão

Uma noite de verão. O FC Porto goleia o Guimarães. Quatro a zero. Grande exibição, principalmente na segunda parte. El Comandante bisa. O Incrível marca. Jackson Martinez marca penalti “à Panenka”. Mas não é só. O colombiano anti-falcao mostra que sabe o que fazer à bola. Atsu e Alex Sandro deliciam na esquerda. Danilo é um galgo na direita. James entra e brinca com o meio-campo vimaranense. A equipa sai debaixo de um coro de cânticos e aplausos.
Foi um sonho?

Antevejo um ano "pereirado"

O jogo ia morno, sem grandes rasgos, excepto as iniciativas individuais de Hulk, ora perigosas ora inconsequentes. Lucho empurrava a equipa para a frente, Moutinho andava ausente, Mangala não conseguia disfarçar o que é óbvio (a sua colocação à esquerda é uma adaptação mais sofrível do que a do Maicon à direita) mas o Gil Vicente nem conseguia respirar – 2 remates sem perigo nenhum e apenas menos de 40% de posse de bola.

Se existem jogos em que apesar da fraca intensidade se adivinha que o golo chegará mais tarde ou mais cedo, este era um desses. O final da primeira parte, com lances de golo eminente na baliza do Gil, fazia adivinhar a vantagem portista.

Mas nós temos um treinador que, para além de uma fraca capacidade de liderança, raramente acerta nas substituições e, por vezes, inventa coisas incríveis em detrimento da própria lógica de jogo que impôs à equipa. E hoje, ao retirar de campo um médio (Fernando) e colocar no seu lugar um avançado, conseguiu partir a equipa a 30 minutos do fim do jogo, dando espaço para que o Gil Vicente desfrutasse de oportunidades que nunca teve na primeira hora de jogo.

O resto é o que se esperava: o Porto passou a viver de um futebol aos repelões, à espera de um lance de rotura de Hulk ou de uma sobra na área que os nossos avançados aproveitassem. Como os de Barcelos jogaram certinhos, com um guarda-redes que esteve sempre lá quando foi necessário, e o Duarte Gomes fez vista grossa a uma placagem na área ao Kleber (a última vez que vi um penalty similar tão flagrante foi em Campo Maior, onde o Jardel foi agarrado, esmurrado, cabeceado e pontapeado sem que o central que o marcava fosse castigado), perdemos 2 pontos. E com algum jeito, poderíamos até ter saído derrotados.

O que fica deste jogo frustrante: o Porto tem e deve colocar em campo laterais de raiz, sobretudo frente a equipas que defendem com 11; Kleber e Jackson só deverão jogar juntos em caso de desespero; Moutinho nao esteve lá e pode estar a ser criado um cenário parecido com o que antecedeu a sua saída do Sporting; e este treinador é o ponto fraco da equipa.

Valha-nos o Melgarejo, em quem, tal como JJ, depositamos muita confiança.

(i)luisão de óptica

O verão ia morno, sem grandes aquisições nem vendas, quando o central que a primeira página d’A Bola deu como vendido a um grande clube europeu 674 vezes decidiu ser o protagonista de um caso. Um caso simples, de pura indisciplina, sem perdão, que nem os excessos da queda teatral do árbitro alemão permitem minimizar. Mesmo que se insista em repetir as imagens de uma forma habilidosa – como dizia um amigo no FB, se continuarem a diminuir a velocidade a que as imagens são exibidas, o encontrão do Luisão vai parecer cada vez mais uma festinha com o peito. Claro está, não existe sumaríssimo ou suspensão preventiva que se aplique ao central e esta noite lá estará o mastodonte brasileiro no centro da defesa, pronto para usar os cotovelos e os punhos com a mesma destreza com que cabeceia ou pontapeia a bola. E por aqui se vê que a cor da justiça desportiva portuguesa não mudou. 

O moço de recados

Quando eu era puto, fazia os recados que a minha mãezinha mandava. Fazer um recado podia ir da simples tarefa de comprar pão à empreitada de repetir um discurso mais ou menos longo à vizinha de cima sobre um assunto qualquer da lida da casa. Este segundo caso era mais complicado porque implicava decorar. Por isso, quero desde já dar os parabéns ao Nelson Oliveira, o mais recente moço de recados do segundo classificado da época passada. Não é fácil aquilo a que ele se está a sujeitar. Mas está a fazê-lo com distinção.
Mal se soube do empréstimo do jogador ao Corunha, a Net foi invadida por hordas de adeptos do clube do Alto dos Moinhos, em fúria cega, protestando contra esta decisão. Então o Nelsinho, a mais excitante novidade vermelha do século XXI, pós-Mantorras, não vai jogar pelo glorioso? Alguns dias depois, surgiu o recado: Nelson Oliveira, aos microfones, jurando, a pés juntos – entrada maldosa -, que tinha sido ele a querer sair, que queria jogar com mais regularidade, que o campeonato espanhol é top, que o marisco na Corunha é do melhor que há. Se fosse o Pinóquio, já se sabe o que teria acontecido.
Hoje, após o Portugal-Panamá, o competentíssimo (e chatíssimo) Helder Conduto atirou a pergunta que fazia falta para se perceber o ambiente à volta de um jogo da seleção de todos nós: “Acha que Luisão vai ser castigado?”. O moço de recados não se fez rogado e dissertou sobre as qualidades humanas do central, entre as quais se destacam as ações de cariz humanitário pelas vítimas no Darfur*. Junta-se, assim, Nelson Oliveira à já longa lista de testemunhas abonatórias que juram que o Luisão não deixa os cãezinhos na rua quando vai de férias. Haja pachorra.
*Isto fui eu que inventei, mas o Luisão é tão boa pessoa que aposto que os benfiquistas são capazes de acreditar que ele o faria.

O "nosso" troféu

E lá ganhámos o “nosso” troféu, como A Bola fez questão de nos lembrar, e bem. Gostavam eles que nos ficássemos apenas por este, mas ao longo dos anos temos provado que há outros troféus que nos assentam muito bem.
Com dois laterais que, em princípio, não serão titulares em grande parte da época, com a ausência de Hulk e com João Moutinho no banco, não poderíamos pedir muito. Foi um jogo típico de início de época, com ritmo baixo e alguma falta de ligação entre setores. A certa altura da segunda parte, cheguei a temer que a coisa corresse mal, como esteve, na realidade, para acontecer pouco antes do golo.
O golo de Jackson Martinez foi um golo à ponta-de-lança, mas o colombiano precisa de uma melhor condição física que lhe permita abordar os lances com mais velocidade.
Do ponto de vista disciplinar, ninguém atirou o árbitro ao chão, o que é sinal que tudo correu bem.