Month: Junho 2012
Quem dá o que tem
Euro-apontamentos (3)
Euro-apontamentos (2)
Euro-apontamentos (1)
Nas asas de Ronaldo e no cérebro de Moutinho
Está no papo
O pior que nos pode acontecer para amanhã é colarem-nos o rótulo de favoritos. Damo-nos mal com esse estatuto, como a final do Euro contra a Grécia foi exemplo. Dito isto, acho que vamos passar porque temos o melhor central da Europa, um dos melhores médios da Europa e o melhor avançado da Europa. E o Nélson Oliveira, claro.
Azedumes desnecessários
Pobo com "fezada"
Não vi o jogo com a Dinamarca em directo. Vi uma parte significativa mais tarde e isso chegou para reter 2 ou 3 coisas importantes:
- bastaria ter um Ronaldo com 50% da inspiração habitual para que uma vitória enrascada tivesse sido uma cabazada das antigas;
- sem um médio que defenda na esquerda, não temos hipótese de suster cruzamentos – o Coentrão tem sido dos melhores mas não faz milagres;
- talvez fosse boa ideia colocar o Hugo Viana em campo o Meireles abafa (algures entre os 55 e os 70 minutos de jogo).
- o Ronaldo vai aparecer em grande,
- o Meireles vai arrancar um meteoro a 40 metros da baliza holandesa,
- o Pepe vai secar o Huntelaar…
penso eu de que…
Pobo sem pachorra
O Pobo tem andado calado sobre o Euro 2012 e sobre as andanças da selecção nacional porque, na realidade, com dezenas de emissões em directo, fóruns e debates, inquéritos e reportagens especiais, fica pouco por dizer… ou talvez não.
Algures entre o bota-abaixismo militante de pessoas como o Vasco Pulido Valente, que casca no nacionalismo exacerbado em épocas de competições futebolísticas, e a gosma do entusiasmo dos discípulos do Nuno Luz, habita algo que não é dito com frequência: que aquilo é uma competição desportiva e que o país tem desafios maiores, que não somos os melhores da Europa no tocante ao pontapé na bola e que a selecção não é culpada pelo circo mediático que a rodeia, para além de valer quase sempre mais do que aquilo que consegue mostrar.
Por uma vez, ainda que por razões erradas (despeito e maus fígados), Manuel José falou o que se impunha: no meio daquele discurso patético do “Ronaldo e mais 10”, das romarias aos treinos e da apoteose de quem já venceu a competição sem sequer disputar um jogo estavam todos a esquecer o essencial: focar-se no trabalho de equipa, construir uma entidade, potenciar as qualidades e aprender a esconder as limitações. Não se trata de ser modesto, de baixar as expectativas para transformar uma eventual vitória improvável num feito equiparável à descoberta do Brasil – trata-se de dedicar tempo e atenção ao essencial.
E, claro, trata-se de não mascarar a realidade, de não a torcer à medida dos nossos desejos e do estimular de uma massa adepta que não vê além das capas apologéticas d’ABola e do Record. Neste aspecto, a selecção parece mesmo o Benfica: a mesma basófia, os mesmo resultados…
Exemplo prático: jogamos como cagões contra os alemães. Sim, claro, eles têm uma equipa poderosa, já venceram competições, etc., etc., mas se a história e a teoria vencessem jogos nem valia a pena ter embarcado para a Polónia. Fizemos uma primeira parte à moda da Grécia, mas sem a sorte e felicidade que estes tiveram no Euro 2004. E, como é costume em 90% das vezes que jogamos assim, a suposta injustiça dos golos alheios abateu-se sobre nós. Claro que ajuda perceber que a Alemanha tem um ponta-de-lança de nível mundial enquanto que nós temos dois avançados centro medianos e um projecto promissor. Isto, num jogo em que a vitória não depende da contabilização de bolas na barra, posse de bola ou oportunidades conta muito, não é?
O exemplo acabado de que a necessidade aguça o engenho foi dado depois do golo alemão, porque deixamos de viver na expectativa e passamos a fazer pela vida. Podem dizer que os outros recuaram depois da vantagem mas a verdade é que eram os mesmo 11 que não nos permitiam passar do meio campo com a bola alguns minutos antes. E onde está a diferença? Na atitude. O futebol (também) é um desporto de estados de alma e quem não busca, regra geral, não colhe. E convém não confundir o que os dinamarqueses conseguiram face à Holanda com aquilo que nós fizemos: eles jogaram como equipa, em todo o terreno, com uma desproporção de talento face ao adversário que era incomparavelmente maior do que a que separa Portugal da Alemanha.
Encostados às cordas, como infelizmente se tornou tradição, espero que nos deixemos de messianismos, de aguardar pelo génio do Ronaldo ou do Nani, e que joguemos sem merdas, para a frente. Sem uma vitória no próximo jogo, seguir em frente deixa de ser sequer uma possibilidade remota.