Há um ano, sensivelmente, meio mundo portista pedia a cabeça de Jesualdo Ferreira. Tínhamos sido goleados em Londres (lembram-se
deste post? e
deste?) e derrotados em casa pelo Leixões. Depois, foi o que se viu. Até acabámos por fazer um campeonato jeitoso.
Passado um ano e pico, constato que se apoderou de um certo número de adeptos portistas um estado de psicose histérica (não sei se isto existe, mas soa-me bem) difícil de explicar. Assobia-se os jogadores, assobia-se o treinador, pede-se já a cabeça deste, deseja-se Jesus. Mas o que é isto, meus amigos? Está tudo louco?
Estamos na luta pelo campeonato, pelo que diz O Jogo (se tivéssemos empatado ontem, deixaríamos de estar?), a prestação na Liga dos Campeões está à altura das expectativas e cumprimos na taça. Ontem, frente à Académica, jogámos mal, sim. Mas, e depois? Jogos maus todos têm, meus amigos. Quando menos esperamos, levamos com um Poltava nas ventas. E com meia dúzia de lesionados, é natural que o nível exibicional se ressinta.
Até ao jogo de ontem, em termos puramente ofensivos, “vivemos” de cinco jogadores: Bellushi, Varela, Fucile, Hulk e Falcao. Os dois primeiros já estão lesionados à algum tempo e Fucile seguiu-lhes o exemplo, ontem, logo aos dois minutos (após jogada excelente). Hulk esteve em dia não e a Falcao a bola nunca chegou em condições durante a primeira parte. O resto foi uma amálgama de inépcia, atabalhoamento, falta de classe ou pura baixa de forma. Isto tudo atrelado ao autocarro que a Académica resolveu estacionar em frente à sua grande-área, na opinião da imprensa sempre isenta, um exemplo de “brilhantismo táctico” e “superior conhecimento do adversário”. Ainda não vi nenhum órgão de comunicação social referir-se à forma como a Académica, antes de sofrer o primeiro, usou e abusou do anti-jogo. Jesualdo preferiu apenas insinuá-lo, elegantemente, dizendo que o único objectivo da Briosa era não sofrer um golo do FC Porto. A imprensa, essa chamou-lhe “táctica brilhante”. Fosse contra um clube que eu cá sei e tínahmos os Delgados e os Guerras da imprensa de sarjeta a queixarem-se ao pobre futebol português em que as equipas não jogam de igual para igual com os grandes.
Na segunda parte, contando com o natural sermão de Jesualdo no balneário, abrimos a frente de ataque (era o mínimo, contra uma equipa que jogava apenas em meio campo) com Farias e pusemos em campo o jogador do plantel que, provavelmente, neste momento, tem maior fome de bola e força física e mental para empurrar a equipa para a frente: Guarín. Marcámos o primeiro e, de repente, a Académica quis atacar (vá-se lá saber porquê) e os seus jogadores até queriam que os nossos andassem mais depressa na marcação dos livres e lançamentos (ironia do destino…). Ganhámos com toda a justiça, sem aquele sofrimento que o resultado pode sugerir ou um ou outro jornalista mais zeloso quer insinuar.
Por tudo isto, não entendo os assobios aos jogadores e ao treinador. Nervosismo face à ditadura vermelha da imprensa? Era o que faltava. Até parece que não estamos já calejados ao longo de anos de sucessivas euforias galináceas. Eles estão a golear? E depois? No momento em que escrevo este texto, estamos em igualdade pontual e reduzimos a diferença para o primeiro. O resto é conversa.
Se eles estão a jogar melhor do que em épocas anteriores (algum dia teria de ser), se estão a ganhar jogos, devemos encarar isso como incentivo ao nosso próprio desempenho e nunca entrar em crise existencial porque jogámos mal um jogo e vemos uma certa imprensa fazer uma campanha propagandística sem precedentes a favor deles. Façamos o nosso trabalho e respeitemos os nossos jogadores e os nossos técnicos. Se não o fizermos nós, quem o fará? Lamentar que não seja Jesus o nosso treinador? Tenham juízo. Não querem um Luís Filipe Vieira, já agora?
PS – Deixo para o fim a revelação que prometi: o poncio, meu amigo e escriba neste Pobo, faz hoje anos. Vá lá dar os parabéns a este grande portista!