Mais do que prometia a força humana

Foi ontem que percebi que vamos ser campeões. Escrevam isto. Independentemente do que acontecer no FC Porto-Segundo classificado, este ano o campeonato é nosso. Porque só uma grande equipa faz aquilo que nós fizemos ontem em Coimbra. Como dizia Camões – que era portista – “mais do que prometia a força humana”, os nossos guerreiros souberam trazer os três pontos daquele caldo verde em que se transformou o relvado. Na TVI, o desespero da dupla Valdemar-Manha tomou conta da transmissão após o grande golo do Varela. Até então, qualquer aproximação da Académica à nossa área era prova de que tinham tomado conta do jogo (somo se, naquele relvado, qualquer equipa pudesse ter a veleidade de “tomar conta do jogo”). No final, claro o lugar-comum da “estrelinha”, da “lotaria que sorriu aos dragões”, da “sorte que protege os campeões”. Enfim, mais do mesmo nesta pasmaceira que é a nossa comunicação social.
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Ontem

Académica – equipa muito bem organizada, com jogadores de qualidade. Grande evolução em relação à Académica que costumamos ver. Vila-Boas, uma boa opção para nós?

Guarín – este rapazjá teve oportunidades suficientes para se afirmar. Não consegue. É limitado. É burro (incrível o penalti que fez e que o Proença nos perdoou). É para despachar no final da época.

Ruben Micael e Varela – Com eles foi outra coisa.

Nuno – será que não consegue agarrar uma bola à primeira?

Orlando Sá – Esforçado, mas nada mais. Percebe-se por que era suplente do Braga. Não se percebe por que o fomos contratar.

Mariano – Os mesmos vícios de sempre. No entanto, um golão. Dêem-lhe sempre a braçadeira.

Árbitro – Jesualdo já tinha avisado que não podemos jogar no limite do fora-de-jogo. Temos de dar um ou dois metros aos defesas pelos vistos. Já enoja tanto golo mal anulado.

Agora é para comer as galinhas no estádio que lhes deu um campeonato. Vai saber bem.

A Académica é um Barcelona (mas sem os jogadores)

Ontem fez-se mais uma goleada na Luz (e mais um ou outro penalti por marcar contra os da casa), mas isso não me preocupa, porque sei que quando, daqui a quinze dias, sairmos de lá com uma vitória, todo o castelo de cartas benfiquista se desmoronará. O que me deixa, nesta altura, apreensivo é o estado lastimável daquele relvado, suficiente para pôr em perigo a saúde física dos nossos jogadores (que estão habituados a jogar nos melhores palcos europeus). Creio mesmo que o passaroco que costuma almoçar um naco de carne antes de cada jogo, ontem, contra a Académica, falhou o seu objectivo porque terá confundido uma bola de lama com um suculento pedaço de vaca (ou será de cabrita?) a que está habituado. Não concordo com a opinião de alguns de levarmos os juniores à Luz (a exemplo da ameaça que pairou no ar antes do jogo em Oliveira de Azeméis) porque estaríamos a hipotecar o futuro de algum reforço de qualidade para a equipa principal.
No jogo de ontem, do qual vi dois terços, admirei a forma como a Académica se estendeu ao comprido. Literalmente. Aquilo parecia o Barcelona a jogar, só com a diferença de não serem os jogadores do Barcelona que estavam em campo. Parece que toda a gente ficou satisfeita com o facto de a Académica ter jogado “de igual para igual” com o adversário, numa atitude que recebeu elogios da comunicação social e até de Jesus (ele que não se cansa de repetir que os adversários vão à Luz para perderem por poucos), mas não criticaram quando esta mesma Académica trouxe o autocarro ao Dragão. Nessa altura chamaram-lhe “brilhantismo táctico”. Desconfio que se estas duas prestações da Briosa tivessem acontecido ao contrário, as análises sofreriam, também elas, uma pirueta…
Voltando ao jogo que nos dará o primeiro lugar do campeonato, daqui a quinze dias, é evidente que sabemos reconhecer que este Benfica tem qualidades. Mas também tem defeitos. Um deles, desde que haja coragem por parte dos árbitros, chama-se David Luiz. O rapaz é bom jogador, mas não é forte psicologicamente. Temos, pois, de colocar grande pressão pelo seu lado, obrigá-lo a cometer erros, obrigá-lo a “passar-se da cabeça” (eu sei que já não temos o Quaresma…). Por outro lado, há que ter esperança num árbitro que saiba marcar as faltas quando ele as comete (principalmente as que acontecem dentro da grande-área) e que o saiba punir disciplinarmente. Coisa que não aconteceu ontem.

Está tudo louco?

Há um ano, sensivelmente, meio mundo portista pedia a cabeça de Jesualdo Ferreira. Tínhamos sido goleados em Londres (lembram-se deste post? e deste?) e derrotados em casa pelo Leixões. Depois, foi o que se viu. Até acabámos por fazer um campeonato jeitoso.
Passado um ano e pico, constato que se apoderou de um certo número de adeptos portistas um estado de psicose histérica (não sei se isto existe, mas soa-me bem) difícil de explicar. Assobia-se os jogadores, assobia-se o treinador, pede-se já a cabeça deste, deseja-se Jesus. Mas o que é isto, meus amigos? Está tudo louco?
Estamos na luta pelo campeonato, pelo que diz O Jogo (se tivéssemos empatado ontem, deixaríamos de estar?), a prestação na Liga dos Campeões está à altura das expectativas e cumprimos na taça. Ontem, frente à Académica, jogámos mal, sim. Mas, e depois? Jogos maus todos têm, meus amigos. Quando menos esperamos, levamos com um Poltava nas ventas. E com meia dúzia de lesionados, é natural que o nível exibicional se ressinta.
Até ao jogo de ontem, em termos puramente ofensivos, “vivemos” de cinco jogadores: Bellushi, Varela, Fucile, Hulk e Falcao. Os dois primeiros já estão lesionados à algum tempo e Fucile seguiu-lhes o exemplo, ontem, logo aos dois minutos (após jogada excelente). Hulk esteve em dia não e a Falcao a bola nunca chegou em condições durante a primeira parte. O resto foi uma amálgama de inépcia, atabalhoamento, falta de classe ou pura baixa de forma. Isto tudo atrelado ao autocarro que a Académica resolveu estacionar em frente à sua grande-área, na opinião da imprensa sempre isenta, um exemplo de “brilhantismo táctico” e “superior conhecimento do adversário”. Ainda não vi nenhum órgão de comunicação social referir-se à forma como a Académica, antes de sofrer o primeiro, usou e abusou do anti-jogo. Jesualdo preferiu apenas insinuá-lo, elegantemente, dizendo que o único objectivo da Briosa era não sofrer um golo do FC Porto. A imprensa, essa chamou-lhe “táctica brilhante”. Fosse contra um clube que eu cá sei e tínahmos os Delgados e os Guerras da imprensa de sarjeta a queixarem-se ao pobre futebol português em que as equipas não jogam de igual para igual com os grandes.
Na segunda parte, contando com o natural sermão de Jesualdo no balneário, abrimos a frente de ataque (era o mínimo, contra uma equipa que jogava apenas em meio campo) com Farias e pusemos em campo o jogador do plantel que, provavelmente, neste momento, tem maior fome de bola e força física e mental para empurrar a equipa para a frente: Guarín. Marcámos o primeiro e, de repente, a Académica quis atacar (vá-se lá saber porquê) e os seus jogadores até queriam que os nossos andassem mais depressa na marcação dos livres e lançamentos (ironia do destino…). Ganhámos com toda a justiça, sem aquele sofrimento que o resultado pode sugerir ou um ou outro jornalista mais zeloso quer insinuar.
Por tudo isto, não entendo os assobios aos jogadores e ao treinador. Nervosismo face à ditadura vermelha da imprensa? Era o que faltava. Até parece que não estamos já calejados ao longo de anos de sucessivas euforias galináceas. Eles estão a golear? E depois? No momento em que escrevo este texto, estamos em igualdade pontual e reduzimos a diferença para o primeiro. O resto é conversa.
Se eles estão a jogar melhor do que em épocas anteriores (algum dia teria de ser), se estão a ganhar jogos, devemos encarar isso como incentivo ao nosso próprio desempenho e nunca entrar em crise existencial porque jogámos mal um jogo e vemos uma certa imprensa fazer uma campanha propagandística sem precedentes a favor deles. Façamos o nosso trabalho e respeitemos os nossos jogadores e os nossos técnicos. Se não o fizermos nós, quem o fará? Lamentar que não seja Jesus o nosso treinador? Tenham juízo. Não querem um Luís Filipe Vieira, já agora?
PS – Deixo para o fim a revelação que prometi: o poncio, meu amigo e escriba neste Pobo, faz hoje anos. Vá lá dar os parabéns a este grande portista!