O Poncio deste blog cresceu idolatrando o Fernando Gomes e o Magic Johnson, admirando os remates do Sousa e os lançamentos perfeitos do Larry Bird, as prodigiosas performances do Michael Jordan e as fintas estonteantes do Madjer. Este Poncio jogou inclusive basquetebol “a sério” (vá lá, na 3.ª Divisão nacional, mas onde já existiam equipas profissionais e basquetebolistas norte-americanos) e, desde os anos 80, segue os Lakers com uma devoção (quase…) igual à que nutre pelo FCP – fim da nota biográfica.
A introdução vem a propósito do horripilante espectáculo de quarta-feira, o quinto jogo da final do play-off da Liga Portuguesa de Basquetebol, que deve ter sido o pior jogo de basquete que eu vi na minha vida (e eu creio que ter visto mais de mil). O magro resultado diz quase tudo, mas ver a forma como um conjunto de atletas profissionais (os nossos e, em menor escala, os deles) jogaram sem alma, sem capacidade de superação, sem nervo e, sobretudo, sem jeito, foi bem pior do que o resultado. Se aquelas duas equipas são o melhor que por aqui se arranja em termos de bola no cesto, muito mal vai a modalidade em Portugal.
E, claro, o Porto perdeu o jogo frente ao SLB, bem como o título, no “nosso” Dragão Caixa, com dois mil adeptos azuis (eu não consegui arranjar bilhetes, o que, bem vistas as coisas, foi um golpe de sorte) a puxarem pela equipa. E a derrota final não surpreendeu quem viu o jogo, porque estivemos sempre em desvantagem no resultado, por breves momentos a um mero ponto de distância, durante largos períodos perdendo por mais de dez. A verdade “verdadinha” é que eles foram melhores – menos maus, tendo em conta o resultado – a equipa de arbitragem errou pouco e no final do jogo até se trocaram cumprimentos civilizadamente.
Depois? Bem, sobre o que aconteceu depois as versões variam consoante a fonte. O Record e A Bola dizem que os adeptos do FCP agrediram os atletas do SLB, insultando-os, atirando moedas, isqueiros e até cadeiras. O JN alude às provocações que terão vindo do treinador do Benfica, um velho conhecido destas andanças de confusões com o público chamado Carlos Lisboa. O que é possível ver nas imagens é a carga policial sobre um conjunto de pessoas que arremessam o que têm à mão na direcção dos atletas do SLB.
Indo por partes e voltando ao início do post: eu sou da geração que nos anos 80 esperou quase uma década para ver o Porto derrotar o SLB num campeonato nacional de basquetebol. Uma geração que gramou, no pavilhão ou na TV, muitos títulos seguidos de uma equipa vermelhusca essencialmente formada pelo Carlos Lisboa, por americano naturalizado chamado Mike Plowden e por 2 angolanos (Guimarães e Jean Jaques). E foi preciso juntar um poste americano de alto nível chamado Jared Miller, um extremo triplista de seu nome Kevin Nixon, dois fantásticos jovens jogadores (Nuno Marçal – sim, o que ainda joga, e Paulo Pinto, que infelizmente já faleceu) mais um base capaz do melhor e do pior (Rui Santos) para que o Porto fosse campeão.
Por isso é que me sinto envergonhado com aquela exibição e, sobretudo, com o espectáculo de mau perder que oferecemos ao país via Porto Canal. Nenhuma provocação, por mais parva e absurda que tenha sido justifica as agressões, os arremessos e o impedimento de receber a taça no campo. Afinal, os gajos venceram o campeonato contra o seu maior rival, contra todas as expectativas e, já agora, no terreno adversário: queriam que fizessem um voto de pesar? Não foi por algo do género que quase toda a gente, portistas e até benfiquistas, criticou os vermelhos depois do apagão e da rega da época 2010/2011?
Vai sendo tempo de aprender a perder. De sermos dignos na derrota. De não alimentarmos a imprensa vermelhusca com este tipo de ofertas. E também vai sendo tempo dos responsáveis do nosso clube assumirem que existem portistas que não se sabem comportar, que têm de ser censurados pelos seus actos e que cenas como a de quarta não podem ser branqueadas com a clássica crítica à actuação alegadamente excessiva das forças policiais. O respeito não se ganha somente obtendo vitórias. O nosso clube só sairá da trincheira onde constantemente nos tentam meter quando perceber que para crescer é preciso perder com graça, lambendo as feridas e preparando a próxima vitória.
Quarta foi um dia mau para o basquete nacional. Mas foi um dia ainda pior para o nosso clube. Porque perdemos o jogo. Mas, sobretudo, porque perdemos a compostura.