O jogo de hoje em Moreira de Cónegos parece uma síntese perfeita da nossa época 2016/2017: um onze desequilibrado, na sequência de um plantel desequilibrado, com insuficiências gritantes (na posição de ponta de lança, por exemplo); uma incapacidade atroz em fazer golos – apesar das oportunidades criadas; um treinador com dificuldade em tomar as melhores opções, quer antes do jogo, quer durante o mesmo; e um árbitro que nos aplica a machadada final, destruindo-nos quando já estamos no chão.
Até ao intervalo tínhamos feito o suficiente para o apuramento ser perfeitamente possível. A exibição não era regular, mas Brahimi e Óliver construíam jogo ofensivo em dose suficiente para metermos pelo menos duas ou três bolas na baliza do Moreirense. Não o fizemos porque quem joga com Herrera, André André ou Depoitre tem um onze desequilibrado e arrisca-se a não ganhar. É a diferença entre ser ou não letal. E nós não somos mortíferos na hora da verdade. Veja-se, por exemplo, as inúmeras perdas de bola ou os passes errados do mexicano, escostado por Nuno Espírito Santo (NES) à direita. Ou a incapacidade que o belga demonstra em jogar fora da área (tem de vir à procura da bola, porque a equipa não está formatada para o servir dentro do retângulo onde se decidem os jogos). Ou a insipidez do jogo de André André, fisicamente um caso muito estranho de um jogador que procura sempre o contacto com o adversário para ganhar a falta porque sabe que não consegue competir em termos físicos. Depois, vemos um Corona ou um João Carlos Teixeira no banco e preferimos não fazer perguntas porque o treinador que desenha saberá melhor do que nós o que pretende.
No final dos primeiros 45 minutos qualquer portista pensaria que, a continuarmos naquela toada, ainda que irregular, feita de momentos, o golo acabaria por aparecer. Até tínhamos no resultado de Belém um incentivo extra que NES certamente não deixaria de capitalizar na mente dos jogadores. Pois bem, o que aconteceu na segunda parte? O inexplicável, ainda que não inédito nesta época. Uma entrada adormecida, passiva, apática da equipa, deixando o adversário acreditar e crescer no campo… Deixando o Moreirense acreditar que o golo era possível. E foi. NES deveria explicar este súbito adormecimento da equipa. E não se pode escudar apenas no anti-jogo do Moreirense (já vamos ao árbitro), porque o golo surgiu aos 48 minutos e até à expulsão inacreditável de Danilo houve 30 minutos para mudar o rumo das coisas. Houve quase toda uma segunda parte para ir para cima do adversário, para o encostar lá atrás, para o sufocar. Em vez disso, esperámos por qualquer coisa que não aconteceu. E o que aconteceu, acabou por se chamar Luis Godinho.
O que este árbitro fez hoje foi inqualificável. Depois de cumprir o sonho de ter arbitrado o “seu” Benfica (é ver uma mensagem de uma amiga que circula pelo facebook), hoje deve ter cumprido o sonho de encostar o traseiro às partes do Danilo e expulsá-lo de seguida (não fosse haver dúvidas da sua masculinidade). Para além disso, foram “apenas” um penalti claríssimo sobre André André (agarrado pelo braço) e um atraso para o guarda-redes não sancionado (vê-se claramente o defesa olhar para trás e a saber perfeitamente a quem vai passar a bola). E foram fantásticos aqueles 8 minutos de compensação, numa altura em que estávamos já com 9 jogadores e era cada um por si…
Aquilo a que assistimos hoje foi um ultraje ao futebol, um assalto com todo o rigor e muito bem delineado à nossa equipa. Fez-me lembrar precisamente uma banda brasileira dos anos 80, os Ultraje a Rigor, que tinham uma canção cujo título assenta que nem uma luva a este senhor que hoje apitou o nosso jogo. Deliciem-se.