Erros meus, má fortuna, árbitro ausente

Uma derrota em Alvalade à terceira jornada não põe nada em causa, mas é um revés difícil de digerir, nas condições em que aconteceu, e numa altura em que – após seis pontos nas duas primeiras jornadas, a qualificação para a Champions, o empate dos coisinhos e a vinda do Óliver – uma onda de entusiasmo se começava a construir à volta desta equipa.

Hoje em Alvalade foram evidentes duas coisas:

  1. A tremenda falta de qualidade do árbitro, que não estava preparado para o ambiente do costume naquele estádio e, por isso, não teve, ou não quis ter, a coragem de aplicar as leis do jogo. E se as tivesse aplicado, o Sporting nunca daria a volta em dez minutos e nunca acabaria o jogo com onze jogadores. Como diz Nuno Espírito Santos, nem é preciso ver as imagens. São as cotoveladas e são ações de classe do melhor andebol. O árbitro foi dando o ar de uma ilusória autoridade, distribuindo seis cartões amarelos pelos de Alvalade, mas nunca o vermelho.
  2. A demonstração de que os problemas do nosso plantel desequilibrado ainda não foram resolvidos. Para além do erro de re-casting que é a inclusão de Adrián Lopez no plantel (um verdadeiro mistério), para além da insistência em fazer de Herrera a referência do meio-campo quando não passa de um jogador mediano, damo-nos conta da gritante falta de extremos (longe vão os tempos de Drulovic, Capucho ou Edmilson) e da super-abundância de médios com características muito semelhantes. Hoje, quando saiu Corona, que estava a portar-se muito bem, que extremo tínhamos no banco para o substituir? Varela. Acho que não é preciso dizer mais nada.

Era importante, hoje, ter vencido em Alvalade (no mínimo, assegurado um empate), o que, aliado a um setembro relativamente acessível no campeonato (guimarães em casa, tondela fora e boavista em casa), poderia dar-nos um embalo importante neste início de campeonato.

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Live to fight another day

Precisei de algum distanciamento para escrever sobre estes últimos jogos do Porto. No meio da (justificada) euforia do mais de que improvável apuramento para a fase de grupos da Champions, tive receio que a lucidez me faltasse.

O que foi mau:

  • ver que num jogo de campeonato, com um Estoril inofensivo, as “armas” ofensivas que tinhamos para jogar num momento de desespero eram o André André e o Sérgio Oliveira – não se isto foi pior do que ter o Varela em campo…
  • os primeiros 25 minutos do jogo em casa com a Roma – foram um filme de terror que me fez lembrar o tempo em que o Porto era uma equipa regional e em que qualquer equipa com um nome estrangeiro nos assustava; para quem só recorda o que se passou depois da expulsão do Vermaleen (e do De Rossi e do outro matreco que se fez expulsar na segunda parte do jogo de ontem), diria que não teria sido surpreendente se a eliminatória estive resolvida aos 25 minutos, tal foi a facilidade com que a Roma chegou à nossa baliza. Terem marcado com um autogolo foi a ironia das ironias, já que tiveram inúmeras oportunidades de o fazer por meios próprios;
  •  a resposta do PdC após o jogo de Roma – num blog como este ou qualquer adepto no FB pode chamar todos os nomes possíveis e imaginários ao ex-lambe botas do Santana Lopes, atual comentadeiro de tv e dirigente ranhoso do SLB que desejou uma vitória folgada da Roma e o expressou publicamente. Ser um presidente de um clube como o nosso a fazê-lo  é atribuir demasiada importância ao animal. Eu também desejo ardentemente vislumbrar o próximo desastre europeu do SLB, ainda me parto a rir com os 7-1 do Celta de Vigo, mas não sou dirigente de nenhum clube e posso dizer aquilo que me apetecer sem vincular nenhuma instituição; o inergúmeno do Gomes da Silva foi igual a si mesmo – o PdC teria sido um poeta ignorando olimpicamente a criatura;

O que foi bom:

  • ganhar contra todas as expectativas (no caso da vitória em Roma, temi o pior mantendo sempre aquela fé inexplicável e inconsciente de portista ferrenho mas a realidade é que se fosse necessário apostar o meu dinheiro ou a minha vida no resultado final nunca prognosticaria uma vitória do nosso Porto); comparativamente, diria que tinha tanta fé no Porto como na possibilidade do Éder fazer a diferença no Europeu, mas acreditei nos nossos e acreditei no patinho feio quando ele esboçou o remate;
  • André Silva – o menino ainda está verdinho, nota-se aqui e ali algum individualismo, mas “o algodão não engana”: temos jogador e o gajo cresce todos os jogos. E vai marcando golos, que é o mais importante;
  • a tendência para o suicidio desportivo em Roma: alguns viram os lances das expulsões como excessos de rigor da arbitragem. Acho normal que um benfiquista pense isso porque nos jogos do SLB, enquanto não existir sangue ou traumatismo craniano nos jogadores adversários nem sequer existe motivo para amarelo; aliás, é mais fácil sair-me o euromilhões em 3 semanas seguidas do que ver 2 jogadores do Benfica expulsos no mesmo jogo; resumindo, fomos beneficiários da azelhice e violência alheia, claro, mas o fundamental é que nenhuma das expulsões foi produto de simulações ou um equívoco. Em Roma, foram produto da ação de um árbitro que tem uns ditos de um tamanho enorme, porque não é qualquer um que expulsa 2 jogadores da equipa da casa sem hesitações num jogo crucial sem cair na tentação de compensar com um qualquer excesso de zelo do outro lado;
  • a folga que os 2 trinfos no campeonato e, fundamentalmente, esta vitória e a passagem à fase de grupos nos dá; também pode transformar-se numa forma de branquear tudo o que está mal (e que continua sem ser resolvido ou minorado); mas é uma oportunidade de redenção desportiva que, em boa verdade, a SAD não merecia. Se sobrevivermos em Alvalade, diria que alguém no céu comprou um Dragon Seat.

Sinais

Rafa vai para o Benfica. Sporting consegue o empréstimo de um bom avançado – Joel Campbell – para precaver a eventual saida do Slimani. Porto coloca Aboubakar na prateleira e Adrien Lopez no onze inicial de uma pré-eliminiatóra da Champions.

Só há um líder

Não sei se foi circunstancial, mas Nuno Espírito Santo respondeu aos jornalistas sobre algumas das decisões que foram tomadas (Rúben Neves e Adrián Lopez, por exemplo) no jogo com a Roma sempre na primeira pessoa no plural. Nós achámos, nós decidimos, nós alterámos. Eu não gosto deste tipo de discurso. Não temos uma comissão técnica à imagem do Portugal de 1984 em França. Temos um treinador principal. Temos um líder que tem de assumir as decisões que toma na primeira pessoa do singular. A insistência no nós pode levar a um esvaziamento da sua autoridade e isso, mais cedo ou mais tarde, passa para os jogadores.

Muito curto para a Champions

Sinceramente não esperava uma diferença tão grande de qualidade e de intensidade entre as duas equipas como a que se verificou na primeira meia hora. Nuno Espírito Santo tentou amenizar a coisa, dizendo que estivemos “discretos” nesse período, mas, na verdade, o que aconteceu foi um banho de bola dos italianos. Sejamos racionais: nesse período, a eliminatória podia ter-se decidido. O nosso meio-campo não segurava a bola e a Roma chegava à nossa grande área com facilidade.

Ainda antes da expulsão, começámos a soltar algumas amarras (psicológicas?), principalmente através de Otávio – o melhor -, que naquele lance individual pela esquerda apenas pecou pela decisão final (André André estava sozinho para ser servido na marca de penalti). Após o vermelho a Vermaelen, o jogo virou claramente e toda a segunda parte foi nossa.

Foi difícil ultrapassar o muro italiano, mas criámos situações suficientes para ganhar o jogo. Um ponta de lança no banco teria dado jeito para uma pressão final sobre os centrais (André Silva estava muito cansado). E depois, acho que Corona deveria ter entrado mais cedo porque era evidente que, a partir de muito cedo na segunda parte, precisávamos de dois extremos bem definidos.

Não soubemos, não conseguimos, não tivemos argumentos para ganhar o jogo e agora a coisa está muito complicada para a segunda mão. Até lá, vem o Rafa? É que pelo que vimos hoje, o plantel está muito curto para as exigências desta competição.

Dejà vu

Há um céu encoberto por um fumo escuro e um estranho cheiro no ar aqui no Porto e já não é a queimado. Algo arde, para lá das “óbvias” florestas e matas deste desgraçado país. E tenho a sensação de que já vi isto antes.

O jogo da Supertaça, o Rafa e nós

Em primeiro lugar, é estranho não estarmos a disputar o (único?) troféu lusitano de relevo onde somos claramente os melhores – desde 2013 que não estamos lá, o que significa que não vencemos nem a Liga nem a Taça de Portugal durante 3 longos e penosos anos.

Em segundo, o Benfica-Braga: para lá da costumeira histeria da TVi em torno da nova vedeta do SLB, o tal Cervi que marcou o primeiro golo, foi impressionante o ritmo, a intensidade e a energia daquele arranque do Benfica. Comparando com o nosso jogo de apresentação, diria que jogamos parados… Foram 20 minutos avassaladores, a lembrar as cavalgadas dos tempos vermelhuscos do Jorge Jesus. Claro que, como nesse tempo, acabava-se o folgo e o adversário devolvia como podia a “gentileza” mas, regra geral, o jogo ficava resolvido na primeira meia hora. No domingo não foi isso que aconteceu, por obra do acaso, por miopia do árbitro e alguma azelhice.

Mas o meu interesse na Supertaça era outro: um baixinho chamado Rafa. E este não me desiludiu. Aliás, fazendo fé no que já o vi fazer e na atuação de domingo, é muito difícil perceber como ao longo dos últimos 2 anos foi existindo dinheiro para o Porto meter tantos barretes e não existe o suficiente para convencer o Salvador e adquirir este jogador. Se o FCP perder o Rafa para o Benfica não será só mais um grande jogador que nos passa ao lado e reforça o nosso maior rival, será a imagem mais significativa do nosso declínio desportivo e financeiro. A nossa equipa precisa de um jogador que resolva jogos sozinho – este portuguesinho de baixa estatura, discreto e reservado, é um enorme jogador. Tem velocidade, técnica e raça em quantidades apreciáveis e tem apenas 23 anos.

Quem viu dois pormenores da sua atuação no domingo poderia até nunca o ter visto jogar mas entenderia que não existem muitos jogadores capazes de fazer aquilo em Portugal: o primeiro exemplo foi dado pelo modo como recebeu um passe longo, do outro lado do campo, controlando a bola perfeitamente e no movimento imediato “deu um nó” no defesa esquerdo espanhol e o retirou da jogada; o segundo é uma situação que não teve um final feliz mas que é uma demonstração de querer, de velocidade e de técnica brutal – o lance em que, partindo atrasado em relação a um colega de equipa e a alguns defesas do SLB (ok, o Luisão não conta…) chega primeiro à bola, rodeia o guarda-redes contrário e… falhou. Mas fazer aquela aceleração desde a linha divisória do campo, depois de uma hora de jogo, com um calor sufucante, é mesmo algo de sublime, independentemente do resultado final da jogada. Resumindo: esta deveria ser a contratação prioritária do Porto para esta época, custe o que custar. Mesmo por 20 milhões, se nos der 2 boas épocas e sair para o estrangeiro depois será sempre um ótimo negócio.

Contratações, vendas que não acontecem e filmes que já vimos

Filme 1 – a quase contratação do central Alex encaixa num velho hábito de quem não tem dinheiro para comprar jovens promessas e enterra o pouco que tem em “nomes”, jogadores que passaram por grandes clubes mas que por algum motivo óbvio já não estão lá – para quem se lembra do Pizzi, do Esnaider e o mais recente playboy argentino que contratamos isto é algo fácil de perceber. São contratações boas para entreter adeptos menos lúcidos mas que mais cedo ou mais tarde se revelam brutais erros desportivos. Como dizem os ingleses: a falhada contratação deste “has been” quer dizer que ” we dodge a bullet”.

Filme 2 – qual é a melhor maneira de desvalorizar um jogador que se quer vender? É tornar evidente que não se conta com ele. O modo como a novela Indi está a decorrer é um claro exemplo de má gestão – não faz parte dos eleitos do treinador, depois é reintegrado, não joga na apresentação, não é inscrito na Champions e agora é relegado para a equipa B. Para lá do óbvio, que é o facto do Marcano não ser melhor do que este luso-holandês e apesar disso ser titular no centro da defesa, que melhor maneira existe de dificultar a venda de um jogador que foi caro do que tratá-lo como lixo?

Filme 3 – um novo pinheiro para o ataque ou a ressurreição do fenómeno Janko. Nunca vi jogar o o belga de 27 anos e 1,91 metros que acabamos de contratar. Parece-me pouco crível que, com esta idade e jogando num campeonato fraquinho que apesar de tudo tem alguma visibilidade nunca se tenha feito notar. Os números relativos a golos e assistências não impressionam, o facto de só ter sido internacional pelo seu país uma vez também é fraco currículo internacional, pelo que as minhas expectativas são bastante baixas. Se a ideia era ter um ponta de lança corpulento para carregar sobre as defesas mais fechadas em momentos de desespero, o melhor seria manter o Gonçalo Paciência no plantel – é português, tem técnica e ainda tem idade para evoluir. A cereja no topo do bolo do desvario que esta contratação parece demonstrar existir foi ter-se concluído que, num dos momentos mais importantes da época – a pré-eliminatória da Champions – este Laurent Depoitre não vai poder jogar…

Pode até ser que me engane, e que de repente surjam compradores generosos que levem daqui o Indi, o Reys, o Brahimi, o Aboubakar, o Quintero e, já agora, o Marcano, deixando dinheiro em quantidade suficiente para Rafa e para mais um central decente. Mas, para já, a única coisa positiva e a esperança mais luminosa desta época que está a começar chama-se André Silva. É muito bom, vai ser ainda melhor, mas não chega para inverter a trajetória dos últimos anos.

 

 

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