Enquanto ainda ecoavam os gritos de festejo de mais um título e os coisinhos estavam alegremente entretidos com as superlativas qualidades de todos os sérvios entretanto contratados, o FCP iniciou uma nova fase da sua história desportiva com a venda do Moutinho e do James. Por melhor negócio que seja realizar a venda de 2 jogadores por 70 milhões de euros, é difícil ficar contente com o ocorrido.
Ninguém duvida da capacidade que o Porto tem tido em descobrir jogadores com potencial e transformá-los em vedetas do futebol mundial, mas é igualmente indesmentível que da fantástica equipa com que Villas Boas venceu quase tudo pouco sobra: partiu Falcao, Hulk, Alvaro Pereira e vários actores secundários desse filme (Bellushi, Guarin e Sapunaru).
Agora que partiu Moutinho e James, sobra apenas um protagonista, Fernando, que é pouco crível que permaneça por cá mais uma temporada. Dos mais utilizados naquela fantástica equipa restam ainda Helton, Maicon, Otamendi e Varela, bons jogadores, claro, mas não daqueles que decidem campeonatos. Trata-se, verdadeiramente, do fim de uma era.
Não tenhamos ilusões quanto ao futuro próximo: recomeçar significa abdicar de quaisquer pretensões a um percurso na Champions que vá além da primeira eliminatória. Sejam quais forem os substitutos, precisarão por certo de tempo e a capacidade da equipa superar gigantes europeus com outros argumentos estará limitada. Certezas, apenas duas: Jackson Martinez e Alex Sandro. Jogadores perto do desse nível, apenas 2 e caminhando em direções opostas devido à idade: Mangala e Lucho. O resto como, disse, são “apenas” bons jogadores (Danilo, Otamendi, Maicon, Defour, Izmaylov, Castro e Varela) e algumas incógnitas (Kelvin, Atsu e Abdoulaye). É curto.
Por fim, a questão do “líder”, que decididamente não reconheço em Vítor Pereira. Apesar de 2 campeonatos conquistados em 2 temporadas como treinador principal e de apenas uma derrota nos jogos da Liga, o futebol praticado raramente empolgou, a concorrência só não nos bateu duas vezes por manifesta azelhice e a verdade é que o Porto tinha e tem o mais caro plantel a atuar em Portugal. Acresce que, fruto da crise, os clubes medianos deixaram de ter jogadores acima da média, o que resultou e resultará crescentemente em campeonatos disputados a 2, em que cada vez menos pontos serão perdidos pelo Porto e pelo Benfica, e em que (quase) tudo se decidirá nos confrontos diretos.
Uma palavra especial para João Moutinho: apesar de não ser por certo um “portista”, Moutinho foi sempre um “jogador à Porto”, mesmo quando estava no Sporting. Garra, talento e profissionalismo transformaram-no num daqueles jogadores que “faz uma equipa”, não pelos golos que marca ou sequer pelos que dá a marcar. O talento único de Moutinho é o ritmo a que joga, o discernimento com que percorre os espaços e a regularidade com que joga bem ou muito bem. É por isso que James será facilmente esquecido e que o algarvio deixará muitas saudades.