Concordo, em termos gerais com as declarações de Lopetegui. Fomos superiores. Não diria “muito, muito, muito” superiores, como disse o basco, mas superiores. E as estatísticas provam-no. E o jogo que todos vimos ainda mais. Devemos ver esta derrota, dentro do fenómeno futebolístico como… possível. Daí não poder estar mais de acordo com o treinador quando diz que o futebol é o único desporto em que podemos ser superiores e perder o jogo. Viu-se isso no domingo. Aliás, há um treinador português que, por certo, concordará com Lopetegui, porque, em 2011/2012, num jogo internacional, disse o seguinte:
“O que conta no futebol é o resultado e a maior parte da pessoas fazem os juízos de valor pelo resultado. Respondendo à sua pergunta, a minha equipa não merecia sair daqui a perder, porque foi melhor equipa durante a maior parte do tempo do jogo. Foi a equipa que criou mais oportunidades de golo. (…) São situações [as oportunidades perdidas], pormenores do jogo, que poderiam ter ditado outro resultado”
Não sabem que é o treinador que produziu estas afirmações?
Vejam o vídeo.
Não me peçam para entrar em esquizofrenias “à António Oliveira”. Aliás, o antigo treinador do FC Porto deve fazer as delícias dos adeptos benfiquistas com aquele estilo que roça, às vezes, o primário, sendo, muitas vezes, mais cáustico para com o próprio clube do que para com os adversários.
Hoje vi e ouvi a melhor análise sobre o jogo de domingo contra os coisinhos: a de Vítor Pereira, no programa Grande Área. Estou absolutamente de acordo com ele. Entrámos bem, criámos oportunidades para estar em vantagem na primeira meia hora, criámos oportunidades para voltar a discutir o jogo – já com 0-2. Falhámos. O Benfica apanhou-se a ganhar sem saber bem como e, a partir daí, como equipa mais experiente que é, soube não cometer erros. Não digo controlar o jogo porque, efetivamente, nunca o conseguiu de forma sólida e continuada. O segundo golo nasce de uma completa passividade de alguém que deixa Talisca receber, olhar, preparar e rematar, ele que o faz – rematar de fora da área – como nenhum dos nossos médios titulares são capazes de o fazer. Fabiano não segurou, porque o remate foi muito bem colocado e com muita força. A partir daí era uma questão de saber para onde iria ressalto. Podia ter ido para o Marcano, foi para o Lima.
Voltando ao início. Até ao primeiro golo, o adversário fez um remate completamente inofensivo, e para fora, por Gaitán e outro, por Talisca, que Fabiano encaixou com facilidade. Ambos os remates de fora da área. Ou seja, até ao golo, o Benfica não entrou na grande área do FC Porto. Até então, poderíamos e deveríamos ter acabado com o jogo. E só não o fizemos porque Herrera fez um remate paupérrimo em zona privilegiada de finalização e porque Jackson permitiu a defesa de Júlio César, numa zona em que o colombiano costuma ser letal. Para além disso, houve um cartão amarelo a André Almeida, houve uma arrancada de Tello que criou extremas dificuldades a Júlio César e houve uma mão não assinalada de Maxi Pereira, que daria um livre em jeito de canto mais curto (e se a mão na área que nos anulou um golo foi assinalada, esta também devia tê-lo sido). Resumindo, até aos 36 minutos, era uma questão de saber se íamos marcar ainda na primeira parte ou apenas na segunda. E já seria injusto irmos empatados para o intervalo.
Depois, surge o golo. Não me lixem, mas aquele golo nem nos juniores se sofre. Danilo assumiu a culpa de não ter reagido (mérito a Lima, nesse ponto), e Fabiano ficou na linha de baliza. E depois, há que dar mérito aos coisinhos, porque eles metem oito jogadores na zona de perigo: cinco na grande área, e três à entrada da mesma. Nós tínhamos nove (não contando com o Fabiano), por isso não era tão difícil assim alguma coisa correr mal (como correu). Vejam o vídeo. Após o lançamento, toda a gente falhou o cabeceamento, incluindo Jardel e os três portistas que se preocuparam com ele, e Lima teve reflexos mais eficazes e rápidos. Se o 0-0 seria injusto ao intervalo, um 0-1 foi-o ainda mais.
O resto foi uma equipa de miúdos a querer fazer tudo com o coração e uma equipa de graúdos com a ratice necessária para não abanar lá atrás. E mesmo assim, poderiam ter abanado se aquelas bolas na barra têm entrado.
Do ponto de vista individual, desiludido pela baixa produção dos extremos, excetuando os primeiros 15 minutos de Tello, e cada vez mais convencido de que Herrera não é homem para estas exigências. Pelo menos de modo continuado. Gostava muito que o mexicano entrasse no lote restrito daqueles médios carismáticos e talentosos de que nos vamos recordar para sempre, mas desconfio que é no grupo dos Defours, Souzas, Tomás Costas ou Chippos que vai acabar por cair.