El Guaro

Freddy Guarin expressa, através do seu twitter, toda a alegria que lhe vai na alma pelo jogão de ontem. El Guaro, como lhe chama Falcao (curiosamente, “guaro” é o nome de uma bebida alcoólica muito popular na América Latina), fez ontem um jogo perfeito em termos ofensivos, com dois grandes golos e acções de construção importantes, deixando-nos completamente inebriados com tamanha contribuição. Guarín parece ser mais um exemplo de que, no nosso clube, o jogador de futebol encontra o espaço ideal para evoluir. Um clube que “faz” jogadores de futebol, que os promove e lhes dá estabilidade. Fui um dos muitos que vaticinaram um futuro cinzento para Guarín no nosso clube, mas, nestes casos, gosto mesmo de perder a razão.
Por outro lado, também devemos ter consciência que, em termos defensivos, Guarín está uns furos abaixo de Fernando, e não me admiraria nada que, dentro de um ou dois jogos, o brasileiro voltasse à titularidade – sendo Belluschi e João Moutinho intocáveis. Quem fica a perder neste jogo competitivo interno é Ruben Micael, um jogador de muito bom passe e inteligente a armar jogo, mas que perde para os restantes na capacidade física (velocidade e explosão).
Voltando ao jogo de ontem, o melhor em campo foi o colombiano, mas muito perto dessa distinção andou João Moutinho. Um amigo meu com quem via o jogo perguntava-me “O Moutinho já jogava assim no Sporting?”. E acho que é uma pergunta legítima porque é de tal forma elevada a qualidade que este jogador põe no jogo da nossa equipa que custa a crer que o Sporting tenha desperdiçado desta maneira um jogador destes, ainda por cima para um rival directo. Ou então voltamos à conversa do primeiro parágrafo e da capacidade que o nosso clube demonstra em fazer evoluir os jogadores.
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À distância de um click

Mais um jogo em Londres, mais uma derrota – o cenário não surpreende mas a realidade do jogo nada teve de comum com as outras duas “recentes” derrotas face ao Chelsea e muito menos com a barraca do jogo com o Arsenal.

Na realidade, eu gostei do que vi em termos de postura e atitude, sobretudo na 1ª parte e, na 2ª, após do golo dos ingleses. A equipa defendeu praticamente com 1o elementos atrás da linha da bola, durante alguns períodos do jogo, mas nunca esteve encostada às cordas. Face a um conjunto que venceu todos os jogos oficiais em que participou esta época e que conta agora com um italiano que está a impor um tipo de futebol matreiro, discutimos o resultado até ao fim, e se é verdade que poderíamos ter sofrido o segundo, estou em crer que o FCP esteve ainda mais perto de fazer o empate, algo que seria o desenlace mais adequado ao que se passou. Mas perdemos, e isso é sempre mau – só os medíocres se contentam com vitórias morais.
Quanto ao desempenho dos nossos: eu perdi os minutos iniciais e quase entrei em colapso nervoso quando vi o Guarin em campo. Na verdade, a troca do Varela pelo “Cebola” era previsível (embora eu não a defendesse) e a saída do ponta de lança para povoar melhor o meio campo (com o Mariano) e deixar o Hulk sozinho na frente era algo igualmente antecipável. O que eu não esperava era ver o Belushi fora da equipa em benefício do mal-amado colombiano.
Pois bem, 5 minutos depois estava convencido das virtudes da estranha opção do Jesualdo – Guarin não só recuperou muitas bolas e lutou em condições de igualdade física com o poderoso meio-campo adversário, durante todo o jogo, como ainda teve tempo e engenho para chegar mais à frente e, pelo menos em 2 ocasiões, estar muito perto do golo. O nosso frágil Belushi é certamente um artista mais dotado e mais lúcido na hora do passe mas jamais conseguiria enfrentar defensivamente o poder de um Ballack, um Lampard e, sobretudo, de um infatigável Essien. Por isso, tendo advogado que este jogador não tinha lugar no plantel 2009/2010, tenho que admitir ter visto hoje o melhor jogo do Guarin desde que está no Porto, realizado em condições difíceis e contra uma das melhores equipas do mundo. Em suma, afinal, talvez mereça mais algumas oportunidades.
Quanto aos outros: Hélton esteve simplesmente impecável (defendeu remates impossíveis, incluindo o que antecedeu o golo de Anelka), A. Pereira sempre muito bem a atacar, Meireles uns furos acima do que se tem visto, com um Hulk desiquilibrador mas com demasiadas opções erradas (sobretudo quando a frescura física se foi). Gostei do trabalho dos centrais, de algumas coisas do Fucile, do contributo do Varela (deveria ter estado mais tempo em campo) e da classe dos pormenores do Falcao – este tipo segura bem a bola, tem visão e vai ser um caso de sucesso. Foi pena termos perdido o Fernando, que esteve bem, porque vai fazer muita falta contra o Atlético de Madrid. Por outro lado, foi evidente que o Cebola está ainda muito abaixo do seu melhor. Falta o Mariano – quanto a mim, fez um jogo fraquinho e não justificou a titularidade.
Resumindo: foi uma derrota que não coloca em causa a imagem do FCP nem causará impactos negativos no moral da equipa. Não obstante, ganhar o próximo jogo da Champions passou a ser, mais do que uma necessidade, uma obrigação – os espanhóis ficaram-se pelo empate face ao Apoel, local onde é quase imperioso ganhar, e a nossa disputa pelo apuramento é com eles.